quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

«O Primeiro País da Manhã», de Ricardo Gonçalves Dias e Marta Madureira

Editora: Dinalivro
Data de Publicação: Novembro de 2014
N.º de Páginas: 28

Direcionada fundamentalmente para os leitores mais pequenos, algumas das temáticas que podem ser extraídas d’O Primeiro País da Manhã têm, contudo, sido assuntos constantes no dia-a-dia dos “adultos”, no último palmo de anos. Mas — perguntam — como pode uma obra infantil abordar temas e sentimentos tão sérios como a insatisfação de se viver num país donde não queremos dele fazer parte, segundo as «leis» vigentes? Criar um novo país ou emigrar para um outro? A resposta é simples: Ricardo Gonçalves Dias foi buscar à sua imaginação o Manel, um menino que «adorava invenções» e que ideava um dia poder ser ele próprio o criador, não de qualquer coisa banal, mas, qual vontade megalómana, auspiciava fazer nascer um novo… país! Mas não um país qualquer. Esse novo lugar do mundo tinha de ter, segundo o jovem impulsionador, as manhãs diferentes, em duplicado… Ele criou a letra do hino desse novo país, atribuiu-lhe um nome peculiar e preparou com pompa e circunstância a sua inauguração, juntamente com a sua cadelinha de estimação. «Todo o resto do dia foi passado dentro do seu país a receber os primeiros visitantes», mas quando, pouco a pouco, esse novo país foi ficando sem habitantes, o Manel decidiu regressar à realidade… pois inventar um país, com novas leis, «cansa muito».
Com um estilo narrativo simples, apelativo e original o autor consegue captar a atenção do leitor, e muito dessa “captação” deve-se ao jogo de palavras que com o texto consegue criar. As metáforas subjacentes que envolvem toda a narrativa e ilustrações, para os mais pequenos não será compreendida — e ainda bem —, até porque há assuntos que só dizem respeito e devem pertencer ao mundo dos grandes.
A nível estético, em O Primeiro País da Manhã predomina o traço rectilíneo, figuras geométricas a representar aparelhos mecânicos, autómatos, relógios andantes e outras peças e possíveis «invenções» soltas. Os tons pastel e o amarelo-torrado são as colorações predominantes e a colagem foi umas das técnicas que a ilustradora da obra utilizou para adornar a história do Manel.
Por possuir uma mensagem muito actual e por através de linguagem (escrita e visual) simples retratar ideias complexas, podem ter sido aspectos que fizeram com que o Prémio Branquinho da Fonseca Expresso/Gulbenkian 2013, modalidade de literatura para a infância, tenha sido entregue a este livro. De salientar que esta distinção atribuída a Ricardo Gonçalves Dias e Marta Madureira — que se segue a O Gatuno e o Extraterrestre Trombudo (Dinalivro, 2012) — é uma das mais relevantes no país, na categoria de literatura para a infância, que já premiou obras de por exemplo Gonçalo M. Tavares (em 2001).

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