sexta-feira, 17 de outubro de 2014

«Teremos Sempre Paris», de Ray Bradbury


Editora: Bizâncio
Data Publicação: Setembro 2014
N.º de Páginas: 192
O primeiro conto do livro em epígrafe intitula-se «Massinello Pietro». Esse é também o nome do senhor de idade avançada que vive há vinte anos apenas com os seus animais (cães, gansos, papagaios...) que «nunca mudam de ideias» nem são infiéis. Num certo dia este homem, muito doente mas muito alegre também, é levado preso por ordens do Tribunal, para regozijo dos seus cruéis vizinhos. O conto escrito em 1984, o segundo que vem no seguimento, é muito sui generis: a sra. Hadley, a mãe de um jovem que morre e do qual é-lhe retirado vários órgãos, faz uma visita a William Robinson, o homem que recebeu o coração do filho. Será que esta mãe enlutada apenas quererá escutar o coração… do filho? Em «Partidas de Golfe ao Crepúsculo» vamos escutando a conversa entre dois homens, de gerações opostas, enquanto estão a jogar golfe. Muitas perguntas e inquietações sobre a psique humana e sobre solidão ficam no ar, neste belo texto. No conto intitulado «O Homicídio» a frase de abertura é «Há pessoas que jamais cometeriam um homicídio». Esse será o iniciar de uma aposta mortal? entre Bentley e Hill. Já o conto que dá título ao livro é sobre um casal de americanos que vai de férias a Paris; o marido sai do hotel à noite e vai dar uma volta pela cidade e relata: «Ia sozinho, quase sozinho, e estava a aproximar-me do Sena quando aconteceu uma coisa estranha, a coisa mais estranha que alguma vez aconteceu na minha vida.»
Dois padres e um cão com um lenço vermelho («Por fim, quando o doente deixou de sussurrar, o cão estendeu uma pata, tocou na cama, esperou um momento e depois saiu»); um casal de setuagenários que fica isolado dois anos na sua casa «bolorenta»; e um casal de amigos que quebra uma grande amizade por causa de um desejo incontrolável. Estes são outros contos fantásticos reunidos neste livro.
Ray Bradbury (1920 – 2012) é mundialmente reconhecido pelos contos de ficção científica que escreveu ao longo de mais de 50 anos, e «Regressar a Casa», uma das histórias reunidas no livro, sobre uma exploração ao planeta Marte, comprova um autor no seu melhor desempenho.
Ao ler Teremos Sempre Paris (We’ll Always Have Paris), um conjunto de 22 mini-histórias muito diferentes umas das outras — ou não tivessem sido escritas ao longo de toda a vida do autor, desde a juventude à velhice, segundo confessa o próprio na nota introdutória —, onde detalhes da vida quotidiana e fantasia se entrelaçam, é-nos permitido desfrutar de todo o imaginário e mestria singulares do escritor de Fahrenheit 451 (1953). Em cada um dos contos coligidos, há uma mensagem que se pode extrair para reflexão sobre a natureza humana, mesmo os contos que são compostos apenas por duas ou três páginas. «Para mim, escrever um conto é como respirar», escreveu o autor em 2008, no ano anterior à primeira publicação deste livro. Quem ler Teremos Sempre Paris só poderá concordar com ele.

3 comentários:

Unknown disse...

Gostei muito de "Fahrenheit 451"..Mas este livro deve ter outra perspectiva.

Krystel disse...

Desde que vivo em Paris que quando leio um livro que tem a cidade como pano de fundo, que sinto o livro de forma diferente. Saio e olho para as coisas, edificios e monumentos com um olhar diferente. Estou curiosa para ler, sobretudo o conto que dá nome ao livro.

macy disse...

Conheço o Ray Bradbury mais a vertence FC mas gostaria imenso de ler estas mini-histórias!
Teresa Carvalho