quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Temática da homossexualidade retratada em dois dos mais recentes livros da Sistema Solar

 
Bom Crioulo
de Adolfo Caminha

N.º de páginas: 160

Um marinheiro crioulo (ou seja, um mestiço de sangues negro e índio), com trinta anos de idade, «muito alto e corpulento, figura colossal de cafre», não resiste à atracção física de um grumete de quinze anos, «belo marinheiro de olhos azuis». Pouco depois está construído um pouco habitual triângulo que na casa da portuguesa D. Carolina (mulher fogosa, com desejos de oferecer à experiência do seu corpo maduro um amante jovem) se faz vórtice numa história de fúria sexual e morte, com elementos inter-raciais e pedófilos, servido com uma frieza descritiva que passa ao lado de qualquer julgamento moral das personagens, tudo isto muito mais do que chegava para ser insuportável aos leitores daquele final do século XIX. Adolfo Caminha foi na sua época atacado pela crítica «oficial», e depois dela pelos que ampliaram os seus defeitos, ridicularizam pormenores de estilo isolando-os do contexto com malévola tendência; e se ele conseguiu fazer sob esta desagradável chuva uma carreira que já galgou um século, nunca descolou de si o rótulo de autor «maldito». [Aníbal Fernandes]


O autor
Adolfo Caminha [Aracati, 1867 – Rio de Janeiro, 1897] entra para a marinha de guerra em 1883, chegando ao posto de segundo-tenente. Apaixona-se pela esposa de um alferes, que abandona o marido para viver com Caminha. Na sequência do escândalo, vê-se obrigado a deixar a marinha e passa a trabalhar como funcionário público.
É autor das obras Voos Incertos (1886), A Normalista (1893), No País dos Ianques (1894). Em 1895, firma a sua reputação literária ao publicar Bom Crioulo, obra que provoca grande polémica por abordar o tema da homossexualidade. Já tuberculoso, lança em 1896 o seu último romance, Tentação. Morre prematuramente aos 29 anos.




O Raposo
de D.H. Lawrence

N.º de páginas: 128

«A minha grande religião é acreditar que o sangue, a carne, são mais sábios do que a inteligência.» Esta valorização do corpo e dos seus instintos, que ele transportava sem nenhuma trégua para a literatura, chegou a incomodar os guardiães da mentalidade vitoriana; a que persistia, depois de Victoria, em determinar comportamentos que preservassem a saúde moral dos Ingleses.

Em 1923, Lawrence publicou O Raposo, uma das suas histórias mais célebres e percorrida por uma energia que tem como foco um amor lésbico; mas talvez a sua obra literária mais pessimista sobre a viabilidade do amor entre mulheres, e do amor entre um homem e uma mulher. A que parece negar, a qualquer destas uniões, um direito à réplica do seu venerado exemplo: a «fusão» de David e Jónatas. [Aníbal Fernandes]


O autor
David Herbert Lawrence, romancista, contista, poeta, ensaísta e pintor, é uma das grandes figuras literárias do século XX. Nascido em Eastwood, Nottinghamshire, em 1885, D.H. Lawrence estudou na Universidade de Nottingham, publicando em 1911 o seu primeiro romance, The White Peacock. Em 1915, The Rainbow, o seu quarto romance, é proibido por alegada obscenidade. Também os seus quadros são retirados de uma galeria de arte. Em 1926, já com vários romances publicados, D.H. Lawrence começa a trabalhar no que viria a ser o seu romance mais conhecido, O Amante de Lady Chatterley. Também este será proibido no Reino Unido e nos Estados Unidos, por pornografia. A partir de Junho de 1928, data em que abandonou Florença, e até à sua morte em 1930, por tuberculose, Lawrence vagueia de cidade em cidade. Trabalhará até ao fim, completando Apocalypse, livro que viria a ser publicado em 1931.
Outro livro do autor publicado pela Sistema Solar:
A Mulher Que Fugiu a Cavalo (2013)


1 comentário:

André disse...

crioulo é um mestiço de branco com negro (mulato é outro termo utilizado para o mesmo);

um mestiço de sangue negro e índio diz-se cafuzo (o termo «cabra» também é muito utilizado);

já agora, um branco com um índio é um caboclo...

há outros termos, mas estes são os mais utilizados.