sexta-feira, 11 de outubro de 2013

«História de Duas Cidades», de Charles Dickens

Editora: Civilização
Ano de Publicação: 2013
Nº de Páginas: 424

A Revolução Francesa foi um acontecimento glorioso, cujo alcance abalou irreversivelmente as estruturas sociais e políticas da Europa. Valores como a Liberdade, Igualdade e Fraternidade resultaram desse ínclito marco da história, que também revelou-se um dos mais sangrentos acontecimentos de que há memória. É a este período que Charles Dickens dedicou a sua escrita, e como resultado em 1859 foi publicado pela primeira vez A Tale of Two Cities (História de Duas Cidades ou Um Conto de Duas Cidades, em português).
O incipit da obra é composto por: «Era o melhor de todos os tempos, era o pior de todos os tempos, era a idade da sabedoria, era a idade do disparate (…) tínhamos tudo à nossa frente, não tínhamos nada à nossa frente, íamos todos direitinhos para o Céu, íamos todos direitinhos no sentido oposto». Assim o autor apresenta o ano em que está datado o início do romance: 1775. O enredo tem como centro duas cidades e dois homens: Paris e Londres e dois homens que disputam o amor de Lucie Manette, a filha de um médico francês que estivera preso em Bastilha (estabelecimento onde se internavam os presos influentes) durante dezoito anos por ter desobedecido, aparentemente, as ordens da Corte.
Libertado da prisão o Dr. Manette parte imediatamente para Inglaterra e começa uma nova vida junto da filha. Esse será também um tempo de resiliência para Manette que sai da prisão livre mas não incólume, mentalmente. Sydney Carton é um advogado afamado e um dos pretendentes da filha do médico, mas tem também a sua saúde instável. Charles Darnay é um francês exilado que esconde um segredo sobre a sua estirpe familiar ligada à aristocracia. Por renunciar os privilégios de consanguinidade abandonara o seu país. É com este homem que Lucie casa. Anos passados, em 1789 eclode a Revolução na França; o rei é julgado, condenado e decapitado, e todos os nobres começam a ser perseguidos, mas o conteúdo de uma carta (dada a conhecer ao leitor nas pp. 359-374) escrita há muito tempo poderá alterar o destino a muitos na «afiada fêmea recém-nascida chamada La Guillotine». Nesta sociedade em mudança a sombra fatal da guilhotina abarca tudo e todos. O casal Defarge, moradores no bairro Saint-Antoine, fará o possível e o impossível para fazer enaltecer os seus sentimentos de ódio, vingança e malevolência à família Manette e a todos os que se interporem nesse pressuposto.
Na primeira centena de páginas de História de Duas Cidades é difícil criar um elo de empatia leitor-história. Muito se deve à utilização pelo autor de uma sintaxe rica, de longos parágrafos e por narrar aspectos específicos da época que retrata. Mais interiorizados com o estilo de Dickens somos levados na primeira parte do romance a captar o lado altruísta e humanista da maioria das personagens, que embora não sejam os mais empobrecidos da trama, são os que mais lutam pela sua reputação e dignidade. Numa segunda parte é mostrado o lado mais obscuro e vil dessas mesmas personagens, que regidas de Vingança, querendo aniquilar os seres seus inimigos, se matam elas próprias com o seu veneno.
O autor de Um Conto de Natal e Grandes Esperanças apresenta-nos assim uma história dramática reveladora de determinação, resistência e redenção de um povo sofrido, de duas cidades, de uma só época.

5 comentários:

nuno chaves disse...

Um dos livros que vou querer ler. Gostei bastante desta tua opinião.
Gosto bastante destas edições da Civilização, são bastante em conta e com bastante qualidade.
Um abraço Miguel.

Miguel Pestana disse...

Vai sair mais 8 volumes desta colecção daqui a uma semana.

Realmente estão a preços económicos, e têm a vantagem de serem em capa dura.

Boas leituras Nuno

nuno chaves disse...

É verdade Miguel, são mesmo em conta, comprei alguns e do que comprei gostei bastante... Por exemplo Anna Karenina, cuja a edição das publicações Europa América, custam 38.90 e esta apenas 9.90

VJ disse...

Gostei bastante da opinião. Já entrou para a minha lista de futuras leituras. E já que gosto bastante das edições da Civilização, pelo equilíbrio muito bem conseguido entre a qualidade/preço, é de aproveitar

Red disse...

Adoro Charles Dickens :D A sua escrita é mágica!