sábado, 29 de março de 2025

Novo livro de especialista europeu em 'mobbing' e 'bullying' entre as novidades de Psicologia


Melanie Tavares colabora em diversos órgãos de comunicação social em temas relacionados com a Psicologia e a sociedade. A psicóloga e comentadora da actualidade criminal na TVI, apresenta o seu livro, De tanto sofrer, esqueci-me de viver, que contém um prefácio da autoria de Manuela Ramalho Eanes e um posfácio de Manuel Luís Goucha.
Além deste livro, a 
8 de Abril a editora Planeta lança também Chama-lhe o Que Quiseres e A Orquestra Feminina de Auschwitz. Conhece outras novidades da editora, aqui.

Sinopse
Aos 10 anos, Melanie Tavares presenciou a morte súbita de uma amiga, um evento traumático que moldou, de maneira definitiva, a sua vida e as suas escolhas. Este episódio fez com que, anos mais tarde, se dedicasse à Psicologia, para compreender o sofrimento humano e as formas de lidar com as adversidades da vida, mas também, e sobretudo, para ajudar todos aqueles que, como ela, passaram por situações traumáticas.
Situações como a morte de alguém que nos é próximo, o diagnóstico de uma doença grave ou crónica, um processo de divórcio doloroso ou anos de abuso, podem desencadear em nós sintomas como medo, pânico, ansiedade, tristeza, depressão, insónia, distúrbios alimentares, isolamento social, entre outros. Cada experiência traumática é única, mas o que é comum a todas é o facto de deixar marcas profundas, que moldam a forma como pensamos, agimos no dia a dia e nos relacionamos com os outros.
Neste livro com dicas, reflexões e exercícios, a psicóloga Melanie Tavares vai ajudá-lo a identificar, compreender e resolver os seus traumas e a criar uma vida sem estas feridas emocionais, com mais e melhor saúde mental. Porque não podemos deixar que o sofrimento e a dor nos impeçam de viver.

«Muitas pessoas, nestes casos de trauma, descobrem uma força e uma energia que nem sonhavam ter, contagiando quem as rodeia. Não se trata de superpoderes, trata‑se de encontrar em si a luz, ver mais lá no fundo, basear as suas atitudes em esperança e potenciar a resiliência. Trata‑se de não esperar para agir, de fazer o que o faz feliz, de não se esquecer de viver.»


Iñaki Piñuel
é um psicólogo, psicoterapeuta e professor universitário espanhol. É um dos principais especialistas europeus na investigação e divulgação do abuso laboral e escolar (mobbing e bullying) e no abuso e maus-tratos narcisistas e psicopáticos. É autor de Amor Zero (2017), Família Zero (2021) e Liberdade Zero (2024), todos publicados pela A Esfera dos Livros, editora que lança agora Sair do Inferno.


Sinopse
É possível sair do inferno psicopático e narcisista. As personalidades psicopáticas representam uma mutação nociva da espécie humana.
Estes parasitas e predadores intraespecíficos vivem à custa da destruição emocional dos outros, sobretudo dos seus parceiros. Sabendo que nunca mudarão, o melhor é pormo-nos a salvo o quanto antes, cortando completamente com eles e implementando o Contacto Zero. Libertar-nos do inferno das relações com psicopatas e narcisistas é possível, caso saibamos enfrentar mecanismos de vitimização sem paralelo.
É uma oportunidade para empreender mudanças pessoais e alcançar o amadurecimento psicológico e o crescimento espiritual que resultem num avanço decisivo e determinante nas nossas vidas.
Este livro fornece as chaves para a saída do inferno psicopático, baseando-se, para tal as décadas de experiência do autor, especializado em ajuda psicoterapêutica (profissional) de vítimas destes indivíduos.

Conhece aqui os lançamentos de Janeiro e Fevereiro d'A Esfera dos Livros.

«Virar a Página» e «A Arte de Construir o Futuro» são as mais recentes novidades da PACTOR


Virar a Página e A Arte de Construir o Futuro são as mais recentes publicações da editora PACTOR.

A primeira obra, dos psicólogos com vasta experiência clínica Sofia Gabriel e Mauro Paulino, tem como missão ajudar o leitor a superar o fim de uma relacção com estratégias baseadas na ciência psicológica. Contém histórias reais de superação, exercícios práticos de autoconhecimento e indicações de passos para curar um coração partido e sinais de alerta para o início de uma nova relação.

Texto de apresentação

Ler este livro é dar o primeiro passo para um novo começo! Um ato de amor-próprio e fortalecimento emocional.
O fim de um relacionamento amoroso pode ser uma das experiências mais intensas e dolorosas da vida. A psicologia tem vindo a mostrar que esse momento exige não apenas um processo de luto, semelhante ao da perda por morte, mas também uma profunda reconstrução da identidade, um reencontro consigo mesmo e uma reflexão sobre o passado e o futuro.
Neste livro, Sofia Gabriel e Mauro Paulino combinam conhecimento científico atualizado com estratégias práticas para o ajudar a superar o fim de uma relação. Com uma abordagem empática e acessível, oferecem explicações claras sobre as emoções que surgem nesse processo e, acima de tudo, apresentam ferramentas eficazes para recuperar o equilíbrio emocional e seguir em frente com confiança.
Enriquecida com testemunhos e histórias reais de superação, esta obra é um verdadeiro guia para quem se sente perdido, deseja recuperar a autoestima e retomar a sintonia com a vida.

Do Prefácio
«Se a minha memória está correta, ouvi um dia o Professor Daniel Sampaio, um dos nossos mestres da terapia familiar, dizer que quem está emocionalmente num túnel escuro não precisa que ninguém lhe diga que há sol no final do túnel, mas sim de quem puxe um banco e se sente ao lado. Este livro pode ter essa função, sem substituir a ajuda psicológica.» Luana Cunha Ferreira

Nota dos autores
«Este livro aborda somente o processo de luto pela perda de uma relação amorosa. Não vamos refletir sobre a discussão monogamia versus poligamia ou o processo de tomada de decisão de perdoar uma traição e (potencial) reinventar da relação. Também não explora outras problemáticasigualmente importantes e que, com frequência, se encontram de “mãos dadas” com este tema, como são exemplo o divórcio, a instrumentalização das crianças nos conflitos conjugais ou a coparentalidade positiva.
No que remete para o género inerente aos termos utilizados, fomos oscilando entre o feminino e o masculino. Apesar de algumas diferenças de género discutidas ao longo do livro, este luto é de todos!
Ainda que esta obra tenha sido construída numa sequência lógica, se não se sentir confortável na leitura de algum dos capítulos, faça uma pausa. Avance um capítulo e retome a leitura do anterior quando estiver mais disponível do ponto de vista emocional. Detém total liberdade para o fazer. É o seu processo de luto e a sua dor – ambos são únicos e reais.»
in Introdução

Outros títulos em que os autores são coordenadores
Luto: Manual de Intervenção Psicológica
, A Psicologia da Pandemia, Animais e Pessoas, A Mensagem das Lágrimas: Guia para Lidar com o Luto (
revisão técnica).


O terceiro volume de 'A Arte de Viver no Século XXI', uma colecção descomplicada e ao alcance de todos, composta por quatro livros com fortes raízes na Ciência Psicológica do nosso tempo, coordenada por Margarida Gaspar de Matos, já está disponível. A Arte de Construir o Futuro aborda, entre outros, temas como o burnout, Mindflex e ambientes de trabalho saudáveis.

Texto de apresentação
A Arte de Construir o Futuro é um guia para todos nós enquanto profissionais, que nos ajuda a aumentar a nossa atenção sobre como nos cuidamos enquanto pessoas, tema que tem uma enorme influência sobre o tipo de profissionais que poderemos ser.
Este é um livro sobre nós, para nos ajudar a refletir sobre as pessoas que somos e sobre os nossos desafios profissionais, dando pistas para otimizarmos a nossa vida e aumentarmos as possibilidades de virmos a ser profissionais mais envolvidos, mais flexíveis, mais felizes e, como tal, aumentarmos o nosso impacto na nossa esfera pessoal e profissional.
Pensado especialmente para os aliciantes desafios de construir um futuro: o seu ou o de outros.

O primeiro título da colecção foi publicado há um ano: A Arte de Saber Escolher. O último volume terá como título A Arte de Ser Jovem Hoje.

sexta-feira, 28 de março de 2025

Das novas publicações de autores lusófonos consta o romance «O Mel sem Abelhas»

Judite Canha Fernandes (nascida no Funchal em 1971) deixou a actividade profissional em 2015 para dedicar-se à escrita, desejo que vinha a adiar desde a infância. Publicou poesia, ficção (romance e conto) e teatro. O Mel sem Abelhas, acabado de publicar pela Gradiva, foi o romance vencedor do Prémio Literário Edmundo Bettencourt 2024 - Prémio instituído pela Câmara Municipal do Funchal, que já galardoou nomes de relevo como Ana Teresa Pereira e José Viale Moutinho.

Texto sinóptico
O Mel sem Abelhas, o mais recente romance de Judite Canha Fernandes, vencedora do Prémio Literário Revelação Agustina Bessa-Luís 2018 com Um Passo para Sul, é uma ficção histórica centrada na cultura da cana do açúcar na ilha da Madeira. O seu título nasceu da expressão «Juncos que produzem mel sem abelhas», utilizada para designar a cana-de-açúcar, quando a encontraram pela primeira vez Índia, cerca do século V A.C.
A novela descreve a história de Marta, que chega à cidade do Funchal vinda de Angola no decorrer do século XVI, para trabalhar como escrava na cultura da cana. Com o olhar do medo, acompanhado pelo fascínio do novo que se lhe apresenta na ilha, vê-se na necessidade de encontrar na cidade do Funchal alguma forma de abrigo e, simultaneamente, inventar um modo de voltar a casa.
Fruto de uma exaustiva investigação histórica e da afirmação de um talento literário singular já anunciado no seu primeiro romance, Judite Canha Fernandes traça a história da escravatura portuguesa e da sociedade colonial madeirense do século XVI açucareiro através voz de uma mulher escravizada, num romance profundamente original que é também um fresco de uma época e de uma condição social.

Silêncio no Coração dos Pássaros é uma história crua e honesta sobre o fim de uma relacção. Após O Lugar das Árvores Tristes, Lénia Rufino (n. 1979) está de regresso com um romance intenso e emocionalmente poderoso, centrado na autodescoberta e no confronto com a dor do fim de um ciclo.

Texto sinóptico
Quando decide pôr fim a um casamento de vinte e sete anos, Laura, uma prestigiada violinista, revisita os principais momentos da sua vida: em criança, o amor pelo violino, o único capaz de preencher os silêncios de uma infância solitária; na transição para a idade adulta, a busca por respostas - ou talvez a compreensão de como se formulam melhor as perguntas; e a certeza de que é na música, sempre na música, que verdadeiramente se encontra.
No prolongamento da catarse, a chegada à maioridade, Álvaro e uma história de amor sem grandes sobressaltos, mas também sem grande entusiasmo; uma parceria apática em casa e na orquestra; e o início do fim: a digressão que faz sozinha pela Europa, a relação com Thomas, um clarinetista austríaco mais novo do que ela, e a tomada de consciência de que é sempre possível fazer voltar a vibrar uma corda que há muito se calou.

Nuno Duarte (n. 1973) é o vencedor do Prémio LeYa 2024 com o romance Pés de Barro, disponível nas livrarias a 15 de Abril. Esta obra do publicitário e escritor, segundo o juri, «polariza o seu realismo histórico no quotidiano de um pátio em Alcântara e nas razões de viver dos que nele se acolhem.»

Texto sinóptico
Estamos em 1962, num país orgulhosamente só, e vem aí a construção da primeira ponte suspensa sobre o Tejo, para a qual vão ser precisos cerca de três mil homens. A obra irá mudar para sempre a paisagem da capital, muito especialmente para quem vive em Alcântara, como é agora o caso de Victor Tirapicos, instalado na casa dos tios depois de ter envergonhado o pai com dois anos de cadeia só por ter roubado pão e batatas para fintar a miséria.
É, de resto, pelos olhos deste serralheiro de vinte e dois anos que veremos a ponte erguer-se um pouco mais todos os dias e, ali mesmo ao lado, partirem os navios cheios de rapazes para a guerra do Ultramar, donde muitos acabarão por voltar estropiados, endoidecidos ou mortos.
Porém, apesar de a modernidade parecer estar a matar a vida e os costumes do pátio operário onde convivem (amigavelmente ou nem tanto) uma série de figuras inesquecíveis – entre elas o mestre sapateiro que faz as chuteiras para o Atlético Clube de Portugal e um velho culto que aprende a desler –, Victor Tirapicos encontra o amor de uma rapariga que é muda mas consegue escutar o planeta, pressentindo a derrocada da estação do Cais do Sodré e outra catástrofe ainda maior, que se calhar tem pés de barro e só acontece neste romance, mas bem podia ter acontecido.

A Casa das Letras edita Diogo Alves, Serial Killer, um romance sobre o primeiro serial killer português, o famoso assassino do Aqueduto das Águas Livres. Cruzando realidade e ficção, este livro vem recordar uma das personagens mais sinistras da História de Portugal. E entra na mente do criminoso que chocou a sociedade portuguesa do séc. XIX. Luís Pedro Cabral (n. 1969) é jornalista freelancer, com contos publicados na revista 'Egoísta' e autor do romance A Cidade dos Aflitos

Texto sinóptico
Diogo Alves parecia não poder queixar-se do seu destino, e a certa altura chegou mesmo a convencer-se de que o mundo estava ao seu alcance. Chegara inseguro e inexperiente, vindo da Galiza, à capital do império português; mas agora, passados alguns anos, deixara de ser o aprendiz de cavalariça e era um respeitável condutor de carruagens, com trabalho assegurado nalgumas das melhores famílias. Discreto, trabalhador e obediente, assim subira na escada social e tornara-se membro honorário da sociedade lisboeta do início do século XIX.
Na verdade, ninguém podia saber que Diogo não era o que parecia ser, e que no seu íntimo habitava uma personalidade perturbada. Só Gertrudes Maria, mais conhecida por Parreirinha, detectou no fundo daqueles olhos azuis um enorme desejo de transgressão violenta. Seria mesmo na taberna dela, lá para os lados de Palhavã, que Diogo selaria o seu destino, ao cruzar‑se com um velho bêbado que, sem o saber, lhe abriria em definitivo as portas do crime e da perdição.

Outro livro que pode interessar: O Assassino do Aqueduto (2014).

quarta-feira, 26 de março de 2025

Reedições de obras camilianas homenageiam o grande escritor da literatura portuguesa

No mês em que se assinala o bicentenário do nascimento de Camilo Castelo Branco (1825-1890), uma das figuras mais proeminentes da literatura portuguesa do século XIX, destacar a reedição, pela editora Opera Omnia, dos romances No Bom Jesus do Monte e Mistérios de Fafe (com introdução assinada por José Cândido Oliveira Martins).
A editora minhota irá reeditar em breve as obras Amor de Perdição e Maria Moisés. Estes quatro títulos integram a colecção camiliana, composta por cerca de 12 títulos que estão previstos publicar ao longo de 2025.


Editado em 1864, o livro No Bom Jesus do Monte é geograficamente centrado no conhecido santuário da cidade de Braga. Ao mesmo tempo que narra histórias de amor diversas, explora inicialmente uma forte dimensão biográfica de Camilo Castelo Branco.

Outro elemento central desta narrativa é uma conceção romântica da paisagem. Neste caso, a natureza minhota na sua diversidade e beleza é tomada como espaço central da ação e, sobretudo, como cenário de confidências do ser humano triste e atormentado. Mais do que explorar a cor local, o romancista perspetiva a natureza como espaço de devaneio e de confidência, como lenitivo para a perturbada solidão e dramas existenciais.


Mistérios de Fafe foi publicado em 1868, primeiro em folhetins no Jornal do Comércio e logo depois em 1.ª edição em livro, tendo conhecido 2.ª edição em 1877 e 3.ª edição em 1881, indiciando o bom acolhimento do público e da crítica.
Privilegiando uma história urdida com cativante naturalidade balzaquiana e realista, Mistérios de Fafe, não escondendo alguma ligação ao género do romance-folhetim, entra diretamente no relato de uma história contemporânea (com balizas temporais ancoradas entre 1838 e precisamente 1868). Camilo lança mão de um estilo vivo e cativante, de vocação muito mais narrativa do que descritiva, como convém a uma história com assinalável verosimilhança. A história acompanha as consideráveis transformações sociais desta época, que vão desde a celebração dos heróis liberais do Mindelo, passando pelos excessos sentimentais do ultrarromantismo, até à prática dos novos casamentos com “brasileiros” nobilitados, no Portugal da Regeneração.

Recentes obras poéticas editadas pela Opera Omnia

Pára-me de repente o pensamento, Por dentro de mim dou a volta ao mundo e Antologia Breve são os títulos mais recentes de Poesia da Editora Opera Omnia.

Ângelo de Lima nasceu em 1872 no Porto (onde frequentou a Academia de Belas Artes), e morreu em 1921. Após o regresso de África, onde participou numa expedição militar, começou a revelar sintomas de loucura, o que levaria ao seu internamento no Hospital Conde de Ferreira entre 1894 e 1898. Viveu no Algarve e em 1901 mudou-se para Lisboa. Em Dezembro desse ano, foi preso no Teatro D. Amélia, “por proferir obscenidades”, e foi internado no Hospital de Rilhafoles, onde permaneceu até à data da sua morte, em 1921. Em 1915 foram publicados alguns dos seus poemas no n.º 2 da revista Orpheu. Fernando Pessoa referir-se-ia a Ângelo de Lima como um poeta que “não sendo nosso, todavia se tornou nosso”. A Poesia de Ângelo de Lima foi recuperada por poetas como Fernando Guimarães e Herberto Helder. Esta antologia reúne o principal da produção poética de Ângelo de Lima.


Este livro reúne um conjunto de algumas dezenas de poemas de uma das vozes mais originais da Poesia portuguesa: A. M. Couto Viana. Seleccionado a partir de uma das mais prolíficas obras da Literatura Portuguesa, este conjunto introduz-nos no universo de um Poeta que logrou receber a atenção e a admiração até dos Poetas mais jovens.
Como já alguém afirmou, “António Manuel Couto Viana aparece-nos como um precursor e como agente de reunião de entusiasmos, sendo um mestre de estilo e de amor pela Poesia. Deste modo, a sua poesia teve particular importância na formação de todo um conjunto de poetas, para os quais sem estética não pode haver vida, pois ambas se implicam mutuamente”.

Selecção e Prefácio de Artur Anselmo.


António Feijó foi um poeta e diplomata, conciliando duas vocações, presentes em outras personalidades da Literatura Portuguesa moderna e contemporânea — a da escrita da poesia com os trabalhos da diplomacia. António Feijó conheceu uma vida cosmopolita, que não o impediu de cultivar relações privilegiadas com o meio literário português. Um dos traços fundamentais da poética de Feijó reside na pluralidade de registos adoptados, para além da exímia versatili­dade e mestria formal da sua escrita — da poesia lírica e amorosa, até à poesia satírica, passando pelo recurso ao humor, ao burlesco e mesmo à paródia. No domínio de uma temática plural, sobressai a expressão saudosa e nostálgica da terra natal e da sua luminosa pátria distante. Deste modo, se tivéssemos que escolher algumas dominantes desta poesia, diríamos que ela oscila pendularmente entre dois grandes pólos — um lirismo mais ou menos intimista e amoroso, nostálgico e dorido, por um lado; e, por outro, uma poesia alegre e humorada, repleta de graça e de sátira, de carica­tura e de burlesco.

Selecção e Prefácio de Cândido de Oliveira Martins.

segunda-feira, 24 de março de 2025

«Dirty Diana - Apaixonada» entre os novos lançamentos da Editora Planeta

Além de SPQR - Uma História da Roma Antiga, O Hábito da Diversão e Prepara-te para a vida, são novidades da Planeta os livros Como Reconstruir um Coração Partido (um guia práctico para ultrapassar o fim de uma relacção, com dicas, reflexões e exercícios práticos, baseados em estudos científicos recentes), a edição actualizada de Cuide do seu Cérebro e Melhore a sua Vida (um livro que ensina a viver com mais qualidade, durante mais tempo) e Dirty Diana - Apaixonada (o segundo volume da trilogia baseado no podcast protagonizado por Demi Moore).

Joana Gentil Martins é psicóloga clínica, mestre em Psicologia Aplicada e especializada em terapias cognitivo-comportamentais com adultos. É autora também dos livros Torna-te o Amor da Tua Vida (2023) e A Coragem para Seres Tu Própria (2024).
Álvaro Bilbao é neuropsicólogo e autor de obras como O Cérebro da Criança Explicado aos Pais (2016) e Todos para a Cama (2019). Este especialista em plasticidade cerebral, colaborou com a Organização Mundial da Saúde e já recebeu diversos prémios pelas suas investigações no âmbito da psicologia e da neurociência.
Jen Besser e Shana Feste, melhores amigas, conheceram-se quando tinham onze anos, na Califórnia, e têm colaborado desde então. 

sábado, 22 de março de 2025

Livros de Camilo Castelo Branco editados pela Sistema Solar

O bicentenário do nascimento de Camilo Castelo Branco, assinalado no passado dia 16, é o pretexto para relembrar duas belíssimas obras publicadas pela Editora Sistema Solar, deste escritor, romancista, cronista, dramaturgo, biógrafo, crítico, historiador, poeta e tradutor português. Falo-vos de Amor de Perdição (esta edição aprimorada, com texto a cor azul, contém 35 ilustrações da autoria de Ilda David) e A Viúva do Enforcado.


Este livro, cujo êxito se me antolhava mau, quando eu o ia escrevendo, teve uma recepção de primazia sobre todos os seus irmãos.

«Nas Memórias do Cárcere, referindo-me ao romance que novamente se imprime, escrevi estas linhas: “O romance, escrito em seguimento daquele (O Romance de um Homem Rico), foi o Amor de Perdição. Desde menino, ouvia eu contar a triste história de meu tio paterno Simão António Botelho. Minha tia, irmã dele, solicitada por minha curiosidade, estava sempre pronta a repetir o facto aligado à sua mocidade. Lembrou-me naturalmente, na cadeia, muitas vezes, meu tio, que ali deveria estar inscrito no livro das entradas no cárcere e no das saídas para o degredo. Folheei os livros desde os de 1800, e achei a notícia com pouca fadiga, e alvoroços de contentamento, como se em minha alçada estivesse adornar-lhe a memória como recompensa das suas trágicas e afrontosas dores em vida tão breve. Sabia eu que em casa de minha irmã estavam acantoados uns maços de papéis antigos, tendentes a esclarecer a nebulosa história de meu tio. Pedi aos contemporâneos que o conheceram notícias e miudezas, a fim de entrar de consciência naquele trabalho. Escrevi o romance em quinze dias, os mais atormentados de minha vida. Tão horrorizada tenho deles a memória, que nunca mais abrirei o Amor de Perdição, nem lhe passarei a lima sobre os defeitos nas edições futuras, se é que não saiu tolhiço incorrigível da primeira. Não sei se lá digo que meu tio Simão chorava, e menos sei se o leitor chorou com ele. De mim lhe juro que…”
Vão passados quase dois anos, depois que protestei não mais abrir este romance. […] Este livro, cujo êxito se me antolhava mau, quando eu o ia escrevendo, teve uma recepção de primazia sobre todos os seus irmãos. Movia-me à desconfiança o ser ele triste, sem interpolação de risos, sombrio, e rematado por catástrofe de confranger o ânimo dos leitores, que se interessam na boa sorte de uns, e no castigo de outros personagens. Em honra e louvor das pessoas que estimaram o meu livro, confessarei agradavelmente que julguei mal delas. […] O livro agradou como está. Seria desacerto e ingratidão demudar sensivelmente, quer na essência, quer na compostura, o que, tal qual é, foi bem recebido.»

 [Camilo Castelo Branco, do Prefácio à Segunda Edição. Porto, Setembro de 1863]


— Olha, se eu dava a minha filha a esse Herodes!

Credo! Que vá casar com o diabo que o leve,
Deus me perdoe!

«Teresa amava-o ardentemente. Aquele rapaz era, com efeito, o que devera ter sido o artista de Guimarães para que as duas almas se identificassem. António Maria era arrojado nas aspirações e invejava a morte duns heróis revolucionários, cuja história contava à viúva entusiasta.

Dramatizava coisas insignificantes com atitudes trágicas. Declamava com o timbre metálico de pulmões que se ensaiavam para o fôlego comprido das pugnas parlamentares. Sabia o gesto e a palavra atroadora de Desmoulins e Mirabeau. Era um homem antípoda do defunto Guilherme. Não tinha cismas, arroubos, nem enlevos pelo azul dos céus além. O seu amor manifestava-se em convulsões assustadoras, e às vezes ajoelhava-se aos pés de Teresa com a humildade de uma criança, e não ousava beijar-lhe a barra do vestido. Se lhe apertava, porém, a mão, os seus dedos fincavam-se como garra do açor, e o sangue latejava-lhe nas falanges. Dizia que tinha vontade de afogá-la nas suas lágrimas, e morrer. Chamava-lhe a sua redentora, porque já não pensava em estrangular os tiranos da pátria, desde que todo o seu futuro estava no amor ou no des prezo da única dominadora do seu orgulho. Se Teresa um dia lhe desse o seu destino, queria ir com ela para a América inglesa, para o coração do mundo onde pulsa a liberdade humana. Se lá a não encontrassem, iriam procurá-la no deserto; à sombra de uma palmeira fariam uma cabana, e no seio de um areal cavariam a sepultura de ambos. Este homem tinha lido as melhores asneiras de 1829: a Adriana de Brianville e Amélia ou os efeitos da sensibilidade; e conhecia Atalá, traduzido em 1820, e as Aventuras do último abencerragem, em 1828. Possuía literatura bastante para levar a peçonha dos romances ao serralho de Mahmoud II.»

[Camilo Castelo Branco]

Camilo Castelo Branco (1825-1890) foi um dos maiores escritores portugueses do século XIX. Dominou a segunda geração romântica e pode considerar-se como seu maior representante. Publicou volumes de poesia lírica nos moldes da época; poemetos satíricos mais ou menos pessoais; folhetos e amplos volumes de contundentes polémicas; dedicou-se também à crítica e à história literária, com agudo senso do ridículo e de certos factores biográficos; muito versado em problemas genealógicos, em certas miuçalhas eruditas, bibliográficas e anedotas históricas, deixou também vários volumes de investigação e miscelânea; para o teatro produziu dramas históricos e passionais, e comédias de caracteres; no jornalismo, além de folhetins, poesia e crítica literária, produziu ainda, em vários periódicos, um trabalho vasto e indiferenciado de redacção e direcção; traduziu muito; prefaciou e editou numerosas obras; deixou epistolografia vastíssima. No entanto, o género mais importante da sua obra é a novela e o conto, género em que criou algumas obras-primas e com as quais preencheu o melhor de vários volumes.


Alguns dos seus livros: O Bem e o Mal, A Queda dum Anjo, Maria Moisés, Maria da Fonte, Onde Está a Felicidade.

sexta-feira, 21 de março de 2025

Romance vencedor do Prémio Literário José Saramago 2024, entre as novas publicações da Quetzal

Morramos ao menos no porto, Murmúrio e reedição de Para Sempre, romance de Vergílio Ferreira que venceu o Prémio PEN Clube 1984, entre as novidades da Quetzal.

Aqui onde canto e ardo foi o seu primeiro romance, vencedor do Prémio Revelação Agustina Bessa-Luís, em 2023. Em 2024, Francisco Mota Saraiva foi distinguido com o Prémio Literário José Saramago, com Morramos ao menos no Porto, um romance que abala os fundamentos da narrativa clássica, um fogo que alastra até consumir todas as suas personagens e que revela o seu autor como uma voz poderosa na literatura portuguesa.
Intenso e comovente, o novo Prémio José Saramago é um romance que trata da perda, da melancolia e da recordação, num registo fragmentado que desafia o leitor. Um livro sobre amor, finitude e memória, que dá voz aos mortos que murmuram debaixo do chão de casa.


No novo romance de Will Eaves, ouve-se um murmúrio, esse som que se confunde com o significado da própria palavra. O murmúrio, em jeito de fluxo de consciência, pertence ao protagonista e narrador, inspirado na figura de Alan Turing. Escrito em forma de diário e de cartas, Murmúrio (vencedor do Wellcome Book Prize de 2019) relata, na primeira pessoa, o período que se seguiu à prisão, julgamento e condenação do célebre matemático, precursor da revolução tecnológica e da inteligência artificial. É que, apesar de ter contribuído de forma ativa para o desfecho da guerra na Europa, Alan Turing foi perseguido pela sua homossexualidade, submetido a castração química e inúmeras sessões de psiquiatria que o conduziram a enormes transformações físicas e mentais e à sua morte prematura, com pouco mais de quarenta anos, apontada como provável suicídio.


Em Para Sempre, um homem, já em fim de vida, medita sobre o seu passado e o seu futuro, quando regressa à casa – agora vazia – onde passou parte da infância. É uma casa povoada de fantasmas que evocam os momentos-chave da sua existência. Paulo enfrenta a derradeira tentativa de explicação e de busca de sentido de todas as coisas.
Nesse trânsito entre a infância e a idade adulta, entre o passado e o presente, Para Sempre ilustra bem a singularidade da obra de Vergílio Ferreira, com uma fusão de narrativa, lirismo e ensaio. É um dos livros mais relevantes na ficção portuguesa contemporânea.

Nota
Salientar que chega às livrarias a 17 de Abril o primeiro volume de Conta-Corrente, o mais comentado diário literário do século XX, que a Quetzal disponibiliza na totalidade até ao final do ano. Ao todo, são três volumes de mil páginas cada, uma colecção em capa dura com sobrecapa e fitilho, que reúne os nove volumes originais.