Em Setembro, a Casa das Letras, chancela da LeYa, vai publicar dois romances de autoras japonesas (o segundo título de Mieko Kawakami e a estreia de Nanako Hanada), um de um escritor francês em que ele é o personagem principal, e da Alemanha chega um retrato da mais carismática imperatriz europeia.
Sinopse
Fuyuko Irie é uma revisora de textos freelancer com trinta e poucos anos. Trabalhando e vivendo sozinha numa cidade onde não é nada fácil estabelecer novas relações, não contacta com ninguém regularmente além da sua editora, Hijiri, uma mulher da sua idade, mas com uma disposição muito diferente.
Quando repara no seu reflexo na montra de uma loja de Tóquio, depara-se com uma mulher cansada e sem espírito, que não conseguiu assumir o controlo da sua própria vida. A sua única fonte de consolo: a luz. Todas as vésperas de Natal, Fuyuko sai para vislumbrar as luzes que preenchem a noite de Tóquio.
Mas é um encontro casual com um homem chamado Mitsutsuka que desperta algo de novo nela. E assim a sua vida começa a mudar. À medida que Fuyuko começa a ver o mundo sob uma luz diferente, memórias dolorosas do seu passado começam a ressurgir. Fuyuko precisa de ser amada, ouvida e vista. Mas vivendo num pequeno mundo criado por si, será que encontrará forças para derrubar os muros que a cercam?
Todos os Amantes da Noite é um retrato perspicaz, divertido e envolvente; fará os leitores rir e chorar, mas também recordar que, como só os melhores livros mostram, há dores que valem a pena.
Mieko Kawakami é a aclamada autora do bestseller internacional Seios e Óvulos, o seu primeiro romance a ser traduzido para português, em 2023. Nascida em Osaka, Japão, Kawakami estreou-se na literatura como poetisa e publicou a sua primeira novela, My Ego, My Teeth, and the World, em 2007. Os seus livros, traduzidos em mais de 20 línguas, são conhecidos pelas suas qualidades poéticas, pela sua visão do corpo feminino e pela sua preocupação com a ética e a sociedade moderna. Kawakami recebeu inúmeros prémios literários internacionais, nomeadamente o Prémio Akutagawa, o Prémio Tanizaki e o Prémio Murasaki Shikibu. Vive em Tóquio.
Sinopse
A vida de Nanako Hanada não só estagnou - bateu mesmo no fundo.
Recentemente separada do marido, vive entre camas de hotéis alugadas à hora, pequenos cafés com Internet ou no chão de livrarias. O trabalho também não está melhor — as vendas na excêntrica livraria Village Vanguard, em Tóquio, que ela gere, estão a cair a pique. À medida que a vida de Nanako se desmorona, ler livros é a única coisa que a mantém viva.
Até que se inscreve num site de encontros que oferece 30 minutos com alguém que nunca voltará a ver. Apresentando-se como uma «livreira sexy», propõe-se a recomendar o livro perfeito em troca de um encontro. No ano que se segue, Nanako conhece centenas de pessoas, algumas das quais procuram mais do que apenas um livro…
Confissões de Uma Livreira é uma ode ao prazer da leitura. Oferecendo um vislumbre do mundo livreiro no Japão e do lado mais excêntrico de Tóquio, esta é uma história sobre como os livros nos ajudam a criar laços com os outros — e a reencontrarmo-nos.
Nanako Hanada nascida em1979, é livreira em Tóquio. O seu primeiro livro, Confissões de Uma Livreira, tornou-se um inesperado e inspirador bestseller e livro de culto japonês que vendeu 80 mil exemplares, tendo sido igualmente adaptado para uma série de televisão. Os direitos autorais permitiram a Nanako abrira sua própria livraria, Kani Books, em Tóquio.
Sinopse
Na esplêndida e perigosa paisagem do Lago Léman, à sombra das montanhas circundantes, um escritor de renome morre, deixando um manuscrito. O seu nome é Marceau Miller. A sua vida foi construída sobre uma mentira. O seu último romance será a sua confissão.
Do cume do Dent du Vélan, uma silhueta contempla o seu corpo esmagado no chão.
Marceu Miller, nascido provavelmente em 1978, é argumentista de televisão e escritor. Mas esta é a primeira vez que escreve um romance com esse nome. Vive em França e regressa regularmente à região do Lago Léman, que exerce sobre ele um forte fascínio.
O Mistério de Marceau Miller é um fenómeno literário que já se tornou um sucesso de vendas em vários países.
Existem homens que arriscam constantemente a vida. Marceau Miller é um deles. Assombrado pela memória da sua irmã, desaparecida vinte anos antes, tornou-se um escritor de sucesso, com uma vida aparentemente perfeita. Ele próprio, é o personagem principal do seu romance de estreia. É de nacionalidade francesa e regressa regularmente ao Lago Genebra, uma região que o fascina profundamente.
Sinopse
Sissi é um romance incontornável sobre uma mulher contraditória, o seu fascínio, os seus anseios, o seu poder de manipulação e a sua força destrutiva. Quando Elisabeth (Sissi) se torna Imperatriz da Áustria através do casamento, entra num mundo estritamente regrado, cheio de convenções rígidas e receções aborrecidas. Só consegue respirar quando está em viagens prolongadas ou quando fica no seu castelo húngaro, Gödöllő, onde pode levar uma vida sem restrições e perseguir a sua maior paixão: a caça com cavalos selvagens.
Nenhum fosso é demasiado largo para a imperatriz, nenhum obstáculo é demasiado perigoso. Sissi é uma das melhores e mais imprudentes cavaleiras do seu tempo, admirada pelo lendário cavaleiro de caça e jóquei Bay Middleton e não apenas pelas suas habilidades de equitação.
Durante uma estadia em Gödöllő, Sissi convida a sua sobrinha Marie Wallersee, perita em equitação e esgrima, para a acompanhar. Filha de uma atriz, Marie não se enquadra bem na posição da imperatriz, mas Sissi vê nela um alter-ego mais livre e faz dela uma confidente próxima. Marie, de 18 anos, sucumbe rapidamente aos braços da tia imperial e fica muito feliz por ajudá-la no seu papel de cavaleira apaixonada e de femme fatale.
Sissi, habituada a ser o centro das atenções, procura um marido para a sua jovem rival, dando início a um jogo de sedução e traição.
Karen Duve nasceu em Hamburgo, em 1961. Os seus livros de ficção e de não-ficção tornaram-se bestsellers traduzidos para diversas línguas. Taxi foi adaptado ao cinema e protagonizado por Peter Dinklage. Recebeu o Prémio Literário de Kassel, em 2017, na categoria de Humor Grotesco, o Prémio de Literatura Düsseldorfer, o Prémio Soluthurner Literatur e o Prémio de Literatura Carl-Amery em 2019 pela sua obra multifacetada.
quinta-feira, 21 de agosto de 2025
Mieko Kawakami em destaque na rentrée literária da Casa das Letras
quarta-feira, 20 de agosto de 2025
«África Minha», de Karen Blixen
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Editora: Clube do Autor
Data de publicação 3.ª edição: 02-07-2025 N.º de páginas: 440 |
Publicado em 1937, África Minha (Out of Africa) é uma referência da literatura autobiográfica do século XX. Nele, Karen Blixen narra a sua vida no Quénia, onde, a partir de 1914, administrou uma plantação de café. Mais do que um relato, a obra é uma meditação poética sobre a relação entre o ser humano, a terra e a memória, elevando a experiência pessoal a uma narrativa universal. A África surge como protagonista viva, um lugar onde o tempo parece suspenso, mas onde cada acontecimento ressoa com intensidade.
Sob pseudónimo, Blixen descreve a vida quotidiana nas colinas de Ngong, os desafios da agricultura e as relações com os povos locais, num olhar respeitoso e afetuoso. Estruturada em episódios, ensaios e retratos, a obra reflete o tom da despedida, escrita após o seu regresso forçado à Dinamarca em 1931. A prosa lírica transforma paisagens e personagens em presenças vivas, revelando a natureza humana com rara sensibilidade.
Críticos como Ernest Hemingway reconheceram em Blixen uma escritora de rara grandeza, capaz de captar com delicadeza e intensidade a essência da vida e da natureza. Embora inicialmente criticada na Dinamarca por elitismo, o livro consolidou-se como clássico e inspirou a célebre adaptação cinematográfica de 1985, com Meryl Streep e Robert Redford.
África Minha é, assim, um retrato de paradoxos — liberdade e privilégio, amor e distância cultural, a África real e a sonhada — que se prolonga em Sombras no Capim (Shadows on the Grass), escrito 25 anos depois. Neste epílogo emotivo, Blixen revisita episódios e personagens, reafirmando o amor profundo pela terra e pelas culturas que a marcaram para todo o sempre.
Salientar a rigorosa tradução desta edição portuguesa, assinada pela dupla Ana Falcão Bastos e Cláudia Brito.
Este título pertence à Colecção 'Os Livros da Minha Vida', que conta com obras como Terra Abençoada, Retrato de uma Senhora, Mulheres Apaixonadas, entre outros.
Excertos
«Quando se apanha o ritmo de África, descobre-se que este é sempre o mesmo em toda a música deste continente.» (p. 25)
«Se eu conheço uma canção de África-pensava eu, da girafa e da lua nova africana deitada de costas, das sementeiras nos campos e dos rostos suados dos trabalhadores nos cafezais, África conhecerá uma canção a meu respeito? O ar sobre a planície vibrará com qualquer cor que eu tivesse vestido, as crianças inventarão um jogo em que surja o meu nome, a lua cheia desenhará uma sombra no cascalho do caminho que se pareça comigo, ou as águias de Ngongo procurar-me-ão?» (pp. 76-77)
«(...) aprendi a estranha lição de que é possível acontecerem coisas de que nós não conseguimos imaginar (...). As circunstâncias podem ser determinadas por uma força motriz que produz acontecimentos sem a intervenção da imaginação ou do entendimentos humanos. (...) As coisas acontecem se sentimos que estão a acontecer, mas, à parte isso, não temos nenhuma relação com elas nem uma chave para descobrir qual a sua causa ou significado. (...) E quem passou por isso pode dizer que já teve a experiência da morte-uma passagem fora do âmbito da imaginação, mas dentro do âmbito da experiência.» (pp. 355-356)
terça-feira, 19 de agosto de 2025
Clube do Autor publica clássico gay da literatura italiana
Quartos Separados, um clássico de culto da literatura italiana, está de regresso às livrarias já a partir de 27 Agosto, com o selo Clube do Autor. Este romance foi publicado pela primeira vez em Portugal em 1993 pela Dom Quixote e está há muitos muitos anos esgotado.
Um livro imperdível para os leitores de O Quarto de Giovanni, Deixa-te de Mentiras e Maurice.
Pier Vittorio Tondelli nasceu em 1955 em Correggio, uma pequena cidade na região da Emília-Romanha, em Itália, e faleceu em 1991 vítima de SIDA. Foi um dos mais talentosos escritores italianos da sua geração, obtendo um sucesso modesto como escritor, mas enfrentando frequentemente problemas com a censura por utilizar temas homossexuais nas suas obras.
Estreou-se em 1980 com Altrilibertini, que narrava a euforia e o desespero de uma geração inteira. Após a sua experiência militar, publicou outros romances, entre os quais Pao Pao (1989), Un weekend postmoderno (1990) e Rimini (1985). Camere Separate, publicado em 1989, é uma obra-prima da literatura italiana e um retrato comovente do amor, da tristeza e do quotidiano de um homem gay na Europa dos anos 1980. Segundo o The Times, é um livro «belo e comovente».
Elogios
«Quartos Separados é um romance extraordinário e alegre, de amor e morte, de nostalgia e maturidade, de impotência e grandeza, no qual reconhecemos a crise do nosso tempo e as suas razões misteriosas.» - Cesare De Michelis
«Este livro não é apenas um dos mais belos que já li, mas, acima de tudo, transpira humanidade de uma forma íntima, brutal, onírica, realista, romântica, desesperada, frágil e louca, tudo ao mesmo tempo. Simplesmente maravilhoso.» - Andrea Belfiori, Goodreads
«Tondelli, através do seu alter ego Leo, o protagonista, relata a sua atormentada tentativa de viver o amor plenamente, mantendo "quartos separados", ou seja, sempre a uma distância segura... A culpa desempenha um papel fundamental na vida e nos sentimentos do protagonista, um homossexual, para quem é duplamente difícil entregar-se a uma relação que deseja profundamente... Vale a pena ler.» - Michela De Bartolo, Goodreads
Texto sinóptico
Um romance melancólico, intenso e terno sobre a vida e o amor.
Leo, um escritor italiano de renome, recorda e reconstrói os fragmentos da sua história de amor com Thomas, um jovem músico alemão, cuja memória deixou nele um rasto de sentimentos contraditórios e dolorosos.
São pedaços de uma história de amor feita em quartos separados, por entre constantes separações e reencontros. Um amor que passa também pelo tormento do ciúme quando Thomas inicia uma relação com uma mulher, bem menos complexa que a dos dois homens. É sobretudo a história de um amor dramaticamente interrompido pela doença e morte prematura de Thomas.
Agora, frente a frente com a verdadeira solidão, Leo tem de fazer o derradeiro esforço para recriar a sua vida e encontrar forças para continuar.
Um livro maravilhoso e intemporal, uma viagem íntima suspensa entre memórias e lugares do passado.
sexta-feira, 15 de agosto de 2025
Entrevista a João Carlos Melo
É psiquiatra, psicoterapeuta e grupanalista, sendo considerado uma referência nacional na área da saúde mental.
Assistente Graduado do Hospital Fernando Fonseca, onde coordena o Hospital de Dia do Serviço de Psiquiatria, João Carlos Melo é também autor de numerosos artigos científicos. Desde sempre manteve o fascínio por compreender o funcionamento mental, bem como os meandros da natureza humana.
Nesta entrevista, partilha a sua visão sobre os desafios atuais da psiquiatria e o papel de novas abordagens terapêuticas, como o uso de psicadélicos. Analisa também a forma como as doenças mentais são percecionadas e tratadas em Portugal; critica a abordagem frequentemente simplista e pouco rigorosa que o tema recebe nos meios de comunicação; reflete sobre a “ilusão de comunicação” gerada pelas redes sociais; e comenta a presença de indivíduos com traços psicopáticos em posições de chefia, que recorrem ao assédio moral no ambiente laboral, entre outros tópicos.
Renascer das Cinzas, lançado em junho pela Bertrand Editora, é o mais recente livro de João Carlos Melo, escrito em coautoria com Maria C., sua paciente. A obra analisa três perturbações psicológicas complexas e estigmatizadas, com destaque para a Síndrome de Munchausen, uma grave doença, a de pior prognóstico de todas as doenças psiquiátricas, caracterizada pela simulação de sintomas para obter atenção médica. João Carlos Melo é um dos poucos psiquiatras no mundo com experiência no tratamento desta patologia.Miguel Pestana | Fotos: DR
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Quando tomou a decisão de seguir a carreira de médico psiquiatra?
A minha curiosidade sobre o comportamento das pessoas e o seu funcionamento mental remonta a um tempo em que ainda nem tinha decidido que queria ser médico. E quando entrei para Medicina já era claro que queria ser psiquiatra.
Mas não me contentei em ser apenas psiquiatra. Quis também ser Psicoterapeuta e Grupanalista, e foi nesse sentido que fiz formações longas e rigorosas que me têm sido muito úteis, não só profissionalmente, mas também como pessoa.
Em 2025, qual considera ser a doença mental mais prevalente em Portugal?
As doenças mentais propriamente ditas não são mais frequentes em Portugal do que noutros países, mas neste campo há um pormenor de grande importância, como mostra um estudo concluído há dez anos e que ainda se mantém atual.
Esse estudo, coordenado por Caldas de Almeida e Miguel Xavier, psiquiatras e professores universitários de renome, concluiu que, a par da Irlanda do Norte, Portugal é o país Europeu com mais alta prevalência de perturbações psiquiátricas (22,9 %). Por curiosidade: essa prevalência chegou aos 27 % nos Estados Unidos e a 29,6 no Brasil.
Mas é importante referir que estas “perturbações mentais”, como lhes chamei, não correspondem a doenças propriamente ditas, como Esquizofrenia ou Doença Bipolar, mas antes a queixas emocionais e queixas físicas associadas a sintomas de ansiedade e depressão.
Nos nossos dias fala-se mais de Perturbação Borderline e PHDA (Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção), em parte porque são mais frequentes e em parte porque são mais disgnosticadas do que eram.
O nosso país regista uma das maiores prevalências de doenças psiquiátricas na Europa, o que se traduz num consumo elevado de psicotrópicos. Qual é a sua opinião sobre esta situação?
Esta é uma questão da maior pertinência porque ela tem sido perturbada por pontos de vista que têm por detrás muita ignorância, preconceitos e estigma.
É claro que o elevado consumo de psicotrópicos deriva diretamente da alta prevalência de situações clínicas em que predominam sintomas ansiosos e depressivos, mas a questão que podemos levantar é esta: a prescrição destes medicamentos é excessiva? Poderia ser menor se, em vez dessas prescrições, as pessoas fizessem psicoterapia?
Aqui está um ponto fulcral, mas, ao mesmo tempo, aquele onde começam os problemas. Numa tentativa de clarificar a questão, há duas ideias importantes que, na minha opinião, são factuais. Em primeiro lugar, os medicamentos que atuam nos sintomas ansiosos e depressivos são eficazes e seguros. Por outro lado, a maioria dos psiquiatras e psicólogos não tem uma formação psicoterapêutica idónea.
Em função destes factos, muitos psiquiatras limitam-se a prescrever fármacos e muitos psicólogos fazem o que chamam psicoterapias sem possuírem formação específica para tal. Outra consequência deste estado de coisas é a desinformação e os preconceitos em relação aos psicofármacos. Já houve quem me tivesse perguntado se eu era “a favor ou contra os medicamentos da psiquiatria”. E já me deparei com pais que recusaram que os filhos fossem medicados, com a alegação de “não concordarem” com os medicamentos. Seria como, perante a prescrição de um antibiótico para tratar uma pneumonia, uma pessoa o recusasse, com o argumento de ser “contra os antibióticos”.
Diante de tudo isto, penso que deverão ser o conhecimento baseado na ciência e o bom senso a nortear-nos.
Tem sido comprovado sem margem para quaisquer dúvidas que, na maioria das situações, não faz sentido considerar uma oposição entre a medicação e a psicoterapia, embora deva haver um maior predomínio de uma ou da outra conforme os casos.
Há pessoas, entre as quais alguns técnicos de saúde mental, que são “contra” a medicação, sob a alegação de se estar a “tapar” ou “disfarçar” o problema em vez de o tratar - seria como um “penso rápido”, dizem, que impede de ir à “causa” do problema. Esta ideia, e os procedimentos em conformidade, levam a situações de sofrimento prolongado e inútil, impedindo as pessoas de verem os seus sintomas e a sua qualidade de vida melhorados. Nesses casos, aliviados esses sintomas e o consequente sofrimento, a pessoa estará mais livre e disponível para empreender uma psicoterapia.
Na prática, para certos problemas mentais, o único técnico preparado para estabelecer se há indicação para prescrição medicamentosa deverá ser o psiquiatra - do mesmo modo que, perante certos problemas de saúde, deverá ser um cirurgião, e não outro médico qualquer, a determinar a necessidade, ou não, de uma intervenção cirúrgica.
Posto tudo isto, o que digo é: haja bom senso, defenda-se o conhecimento científico e acabe-se com os preconceitos, o estigma e a ignorância. Bem sei que não é fácil, mas penso que é esse o caminho.
Nos últimos anos, a saúde mental tem ganho maior visibilidade nos meios de comunicação. O Dr. João Carlos Melo considera que esta exposição é, maioritariamente, tratada de forma rigorosa ou simplista?
Na minha opinião é tratada predominantemente de uma forma simplista e pouco rigorosa. Os meios de comunicação preferem passar a ideia de que, com força de vontade e querer, é fácil as pessoas superarem-se, transformarem-se nas suas melhores versões e seguirem estratégias e fazerem exercícios e levarem a cabo tarefas simples para se tornarem saudáveis.
Não é popular falar de doenças graves. Não é popular falar de casos reais de uma forma realista e não espetacular. Não é popular falar da falta gritante de cuidados psiquiátricos nas prisões. Não é popular falar de forma clara (e não espetacular) de algumas das maiores pragas que afetam o nosso país: o bullying, a violência doméstica e os abusos sexuais.
O Infarmed aprovou recentemente o primeiro psicadélico para depressão grave a ser utilizado em meio hospitalar. Acredita que estas substâncias poderão revolucionar a psiquiatria?
Revolucionar, não digo, mas serão (e já estão a ser) um valioso contributo para o tratamento de depressões graves.O seu mais recente livro, Renascer das Cinzas, chegou às livrarias no início de Junho. O que o motivou a abordar, num livro, de forma tão aberta, três perturbações ainda pouco compreendidas e muito estigmatizadas — Transtorno de Perturbação Borderline, Síndrome de Munchausen e Mentira Patológica?
Sobre a Perturbação Borderline já tinha escrito em Reféns das próprias emoções.
A Mentira Patológica será, muito provavelmente em breve, considerada uma doença. É importante conhecê-la e não a confundir com a mentira levada a cabo pelos psicopatas. Creio que não há nenhum livro português sobre o tema.
E a Perturbação Factícia (ainda mais conhecida como Síndrome de Munchausen), embora seja conhecida superficialmente pelos psiquiatras, porque já ouviram falar dela, é ainda muito mal conhecida. Estou convencido, pelo muito que estudei da doença, que sou dos únicos psiquiatras do mundo já com alguma experiência em tratar esta gravíssima doença, a de pior prognóstico de todas as doenças psiquiátricas.
Estas são razões mais que suficientes para justificar a escrita deste livro. Mas Renascer das Cinzas não se limita a dar-lhes a conhecer. Ele fala do caso real de uma paciente vitimada por estas três doenças. E foi escrito em co-autoria com ela.
A Síndrome de Munchausen é descrita por si como «a mais perturbadora, devastadora e intrigante das doenças [mentais]», mais difícil de tratar do que a esquizofrenia. Tendo em conta a sua experiência, o que a torna tão desafiante?
Sabe-se muito pouco sobre esta doença. E a principal razão é a falta de colaboração dos próprios pacientes afetados por ela. Eles mentem, enganam e não admitem ter a doença. Quando percebem que estão a ser “apanhados”, desaparecem e mudam de médico, de hospital, de cidade, e, em alguns casos, até de país.
Ainda que seja conhecida por basear-se em comportamentos que visam apenas enganar os médicos (fingindo que estão doentes e provocando doenças em si próprios, quando sabem muito bem que não estão doentes), o que leva a estes comportamentos é um sofrimento insuportável e incomunicável, ao ponto de, segundo alguns estudos, fazer com que até 70 % dos doentes acabe por se suicidar.
No livro, Maria partilha: «inventava sintomas só para ter cuidados médicos e não me sentir tão sozinha». Como terapeuta, como se trabalha uma solidão tão enraizada que leva a este tipo de comportamento?
A principal medida terapêutica é não abandonar o doente. E aceitar que, para o ajudar, é necessário aguentar as mentiras e os enganos.
A questão é: como é possível confiar em alguém que nos mente e engana? E a resposta é: não abandonando o doente. Não há outra forma. Depois, é fundamental aguentar a solidão do doente e estar preparado para acolher e conter um vazio e um desamparo que são quase incompatíveis com a vida e angustiantes para o próprio terapeuta.
Em que momentos percebeu que algo estava verdadeiramente a mudar na paciente — progredindo para aquilo que descreve como uma «extraordinária e inédita recuperação», um caso raro de superação da Síndrome de Munchausen?
Não foi de um momento para o outro. Foi um processo. Os momentos decisivos foram quando começou a ser possível falarmos de “mentiras” e de “Munchausen”, porque de início eram palavras tabu e ela não só não admitia falar disso, como não admitia que mentia e que tinha comportamentos factícios.
As mentiras não acabaram de um momento para o outro. Mas, desde o início, e sempre, a sua determinação em melhorar e a sua tenacidade em prosseguir a psicoterapia foram os fatores mais decisivos. Tal como a minha determinação, o meu empenho e a minha dedicação.
No final do livro, Maria fala em «superação» e o Dr. João Carlos Melo refere que esta paciente «venceu» a doença, mas o próprio texto menciona um internamento recente, em março de 2025. Considera que é possível falar em cura antes de um período prolongado sem sintomas?
São palavras e conceitos muito delicados. Vejamos em concreto. O vazio, o desamparo, o sofrimento, a dificuldade em regular as emoções, a baixa autoestima e a excruciante angústia de abandono (próprios da Perturbação Borderline) melhoraram muito e continuam a melhorar, mas não desapareceram, como é próprio da doença.
A Mentira Patológica e a Síndrome de Munchausen são doenças comportamentais, se assim se pode dizer. Os comportamentos que as caracterizam deixaram de existir há muitos meses. É discutível dizer que está curada. Mas não apresenta manifestações das doenças.
Vejamos a seguinte situação. Imaginemos o caso de um indivíduo que esteve dependente do álcool e abusou do seu consumo, digamos, entre os 20 e os 40 anos. Depois deixou de beber. Hoje tem 80 anos e continua sem beber. Devemos considerar que, uma vez alcoólico, será alcoólico toda a vida, beba ou não beba? As suas fragilidades e a predisposição para beber não desapareceram, mas o consumo já não existe. Está curado ou não?
Voltemos ao caso da Maria. Depois de muitos meses sem mentiras nem comportamentos factícios, ela foi vítima de circunstâncias muito adversas da sua vida, que lhe provocaram muito sofrimento e um episódio depressivo.
Noutros tempos, em situações similares, a saída mais fácil seria voltar àqueles comportamentos. Mas desta vez não o fez. Como um alcoólico que renuncia à bebida ou um toxicodependente que renuncia à droga, a Maria aguentou tudo “a frio” e renunciou aos ditos comportamentos. Mostrou que tinha superado as duas doenças. Mas o preço a pagar foi uma depressão grave e uma tentativa de suicídio que requereram um internamento.
Neste momento está bem e sem qualquer sintoma. Até quando? Ninguém pode dizer. Mas temos os dois uma crença e uma convicção muito fortes de que será para sempre.
Na sua prática clínica, já se deparou com algum caso de Transtorno Factício Imposto a Outro, também conhecido como Síndrome de Munchausen por Procuração ou Síndrome de Munchausen by proxy?
Não. Nunca aconteceu.
A Mentira Patológica ainda não é reconhecida formalmente como doença. Quais implicações isto traz para o diagnóstico e o tratamento?
Estou convencido de que quando for reconhecida formalmente como doença, ela será mais conhecida e o diagnóstico será mais fácil. Depois será necessária uma atitude mais tolerante e mais compassiva por parte dos terapeutas e de todas as pessoas que lidam com a pessoa afetada pela doença.
Numa das passagens mais bonitas do livro, escreve que a escuta atenta e empática facilita a verbalização e proporciona ao paciente a oportunidade de ser efetivamente compreendido. Considera que esta é a base do trabalho em qualquer psicoterapia?
Penso que essa é uma base fundamental. Mas também são requeridas outras atitudes: paciência, empenho, dedicação, empatia e compaixão.
Carl Rogers (1902–1987) via a relação paciente–terapeuta como o elemento central e mais transformador no processo terapêutico. Na visão deste psicólogo humanista, o terapeuta não é «o especialista que cura o paciente», mas um facilitador do crescimento pessoal. Concorda?
Plenamente. Uma psicoterapia é um trabalho conjunto de duas pessoas, que cooperam, cada uma com as suas funções específicas, mas em que a responsabilidade deve ser sempre assumida pelo terapeuta.
Como decorreu o processo de coautoria? Quais foram os maiores desafios na escrita conjunta?
Aquilo que viria a ser o embrião de um possível livro (antes ainda de pensarmos nisso) foram algumas mensagens e e-mails que íamos trocando. A Maria respondia a questões que eu lhe colocava e ia correspondendo aos pedidos que eu lhe fazia para colocar em palavras o que sentia. Da minha parte estudava as doenças e tomava notas para as compreender melhor.
E quando começámos a perceber que podíamos dar corpo ao processo terapêutico através de um livro, falámos sobre isso e fomos amadurecendo a ideia.
Houve depois uma altura em que percebemos que a própria existência de um livro poderia servir de incentivo para lutarmos ainda mais pela recuperação. E, assim, livro e psicoterapia passaram a funcionar como aliados, digamos assim, um do outro.
Espera que o livro contribua para reduzir o estigma associado a doenças mentais particularmente graves, pouco conhecidas e compreendidas?
Esse foi um dos objetivos. E, particularmente da parte da Maria, o seu grande objetivo foi ajudar outras pessoas que sofriam como ela, dar-lhes esperança e incentivá-las a não ter medo de pedir ajuda.
Que tipo de comentários ou feedback tem recebido dos leitores e da comunidade clínica?
Os comentários têm sido excelentes e muito gratificantes.
Mas há um pormenor que lamento. Recebemos convites de programas televisivos de grande audiência para uma entrevista. Seria uma forma gratificante de darmos a conhecer o livro e o caso e de podermos ajudar muitas pessoas. Mas como a Maria, para preservar a sua privacidade e a da sua família, pediu para não aparecer e para a entrevista ser só comigo, não aceitaram. Resultado: desfizeram o convite! Este é um exemplo do que disse atrás: que não é popular falar de casos reais de uma forma realista e não espetacular.
Há programas que preferem outras coisas. Por exemplo: casos falsos de falsas recuperações, mas que são mais espetaculares. Eu especifico melhor: as pessoas com Síndrome de Munchausen procuram apenas uma coisa: a atenção e os cuidados dos médicos e/ou de familiares e amigos; mais nada. Mas há outras que, apresentando casos parecidos, têm como objetivo ter algum tipo de ganho material: pensões, subsídios, donativos, venda de livros, divulgação da imagem nas redes sociais e parcerias com marcas e empresas. Isto corresponde a uma entidade clínica chamada “Simulação”.
Estes casos, que por vezes divulgam falsas recuperações (porque nunca estiveram doentes), são mais apelativos; e, cá está, vendem mais e dão mais audiências.No seu livro Nascemos Frágeis e Recebemos Ordens para Sermos Fortes, escreve sobre o transtorno de personalidade narcisista. Quais são as principais causas e como se procede ao tratamento?
Temos de ter em conta uma componente genética na génese das doenças mentais. Nesse sentido alguns estudos têm sugerido a importância desse fator em várias características narcísicas. Mas os fatores interpessoais têm um peso grande, que devemos valorizar.
Todos nós precisamos de ser investidos narcisicamente. Isto significa vivermos a experiência de sermos importantes e especiais para alguém (os nossos pais ou seus substitutos e, depois, as pessoas mais significativas da nossa vida), sermos elogiados e sentirmos que somos reconhecidos e valorizados por sermos como somos.
Estas experiências contribuem para desenvolvermos uma boa autoestima. Quando as coisas acontecem ao contrário, a autoestima será frágil e, quando sujeita a ataques ou feridas, levará ao desenvolvimento de características narcísicas.
Há dois grandes grupos dessas características, que levam a dois modos diferentes de funcionamento narcísico. De um lado temos aquelas pessoas que têm sentimentos de inferioridade, são discretas e conformam-se às opiniões e interesses dos outros, de modo a evitarem serem criticadas e, por conseguinte, sentirem a sua autoestima ferida. Estas, se forem humildes e quiserem muito mudar e melhorar, podem de facto melhorar.
Do outro lado temos aqueles indivíduos, mais propriamente chamados narcísicos, que são arrogantes, vaidosos, que precisam de ser o centro das atenções e que diminuem e desvalorizam os outros e não têm empatia pelo seu sofrimento. Estes são mais difíceis de tratar porque geralmente não querem, sentem que não precisam e não têm a humildade necessária para o efeito.
António Coimbra de Matos (1929–2021) assinou o prefácio desse livro. Pode falar um pouco sobre a influência que esta figura incontornável na história da saúde mental em Portugal exerceu na sua formação e carreira?
Nunca trabalhei diretamente com António Coimbra de Matos, mas aprendi muito com ele, inspirei-me muito com as suas ideias, sempre o admirei e sinto-me eternamente grato pela generosidade que teve em prefaciar esse livro e apresentá-lo no seu lançamento.
Há mais de 30 anos que trata da Perturbação Borderline. «Os borderline são os doentes de quem ninguém gosta, aqueles que muitos procuram evitar.» Esta frase foi escrita por si no livro Reféns das Próprias Emoções. Mesmo no meio psiquiátrico, os pacientes com este transtorno de personalidade continuam a ser alvo de estigma?
Embora menos, ainda continuam a ser alvo de estigma.
Na obra Uma Luz na Noite Escura, debruçou-se sobre o tema da solidão. Quais considera serem os principais fatores psicossociais e culturais que explicam o aumento da solidão entre jovens adultos em Portugal?
Reconheço muitas qualidades nos portugueses. Apesar disso, considero que, de uma maneira geral, os portugueses têm uma baixa autoestima e, em alguns aspetos, são invejosos. Por outro lado, a ilusão de comunicação que as redes sociais trazem, contribui para que nos sintamos mais sós. Todos estes fatores, e mais outros que estudos sociológicos possam mostrar, contribuem, na minha opinião, para aumentar o sentimento de solidão que nos afeta.
Em Lugares Escondidos da Mente, escreve sobre o lado mais sombrio da mente humana, descrevendo indivíduos com transtorno de personalidade psicopata. A psicopatia é curável?
Não.
Segundo estudos e investigações de Robert D. Hare (n. 1934), um dos mais respeitados investigadores sobre o tema, em cada 100 pessoas, pelo menos duas são psicopatas. Como podemos identificá-las e proteger-nos dos seus comportamentos?
Além desses 2 %, há muito mais pessoas que, não preenchendo todos os critérios para que as consideremos psicopatas, têm muitas das suas características.
O problema é que, de início, podem ser indivíduos encantadores, atenciosos e que nos dão a sensação de que somos importantes para eles. Outro problema é irmos perdoando algumas das suas imperfeições. Outro problema é fazerem-nos sentir que precisamos deles. E por aí fora, até ficarmos presos nas suas garras. E nessa altura já é tarde.
Só há uma forma de nos protegermos deles: contacto Zero! O problema é quando as pessoas preferem acreditar neles e optam por continuarem a ser destruídas.E quando não é possível evitar o contato? Muitos líderes empresariais exibem traços psicopáticos e usam o seu poder para manipular, praticar mobbing e adotar outros comportamentos abusivos. Como alguém pode se resguardar quando o psicopata é… o próprio patrão?
O problema é o poder que esses indivíduos possuem. Esse é um dos seus grandes objetivos, e para o conseguir preparam o terreno para esse fim, representando, durante anos se necessário for, o papel de funcionário exemplar, subjugando-se aos próprios chefes e aliando-se a eles para ganharem o estatuto de “colaborador de confiança”.
Claro que eles atuam sem testemunhas, de modo a não deixar provas, o que torna tudo mais difícil. Mas, suponhamos que a presa (é assim que devemos colocar os termos) filma ou grava as ações psicopáticas do chefe. A lei protege-os porque o som ou as imagens obtidas não têm validade jurídica. Ainda assim, penso que é fundamental fazê-lo.
Sempre que possível, seria fundamental prevenir. Como? Não dando confiança, não falando de si nem da sua vida privada. A presa deverá tentar perceber se é a única. Se for, aconselho a que comece por falar apenas a alguém da sua maior confiança. Se não for, deverão juntar-se numa ação comum. Em qualquer dos casos deverão denunciar o caso ao Sindicato e à APAV.
Mas, o mais eficaz seria haver legislação que protegesse os trabalhadores e punisse severamente os criminosos. Infelizmente ainda estamos longe da aplicação desse direito.
Se alguém estiver a ser alvo de assédio moral no trabalho, por parte do chefe ou de um colega, como pode salvaguardar a sua saúde mental?
Afastando-se do local de trabalho. Como? Usufruindo de um direito que os trabalhadores conquistaram: através de uma baixa médica. Na minha opinião, mais vale prevenir do que remediar. Tenho visto pessoas completamente destruídas (profissional, pessoal e familiarmente), perante o olhar condescendente e sádico desses chefes, que depois se passeiam sem culpa nem remorsos.
Em maio deste ano, esteve na Madeira a dinamizar a formação ‘Princípios de Saúde Mental’, destinada a docentes que lecionam na ilha. Em que consistiu esse evento?
Tratou-se de uma iniciativa do Sindicato dos Professores da Madeira, que, aliás, levou a uma iniciativa idêntica do Sindicato dos Professores dos Açores.
O principal objetivo foi contribuir para melhorar a literacia em saúde mental dos formandos, através da clarificação de conceitos, e a partilha de ideias várias sobre a personalidade, o caráter, o temperamento, o narcisismo e a autoestima, as emoções e sua regulação, o bullying e o burn out dos professores.
Nasceu e cresceu nos Açores. Eu, na Madeira. Existe evidência científica de que a vida insular implica desafios específicos para a saúde mental? Estou certo ao afirmar que nas regiões insulares, observa-se um risco mais elevado de suicídio e de consumo problemático de substâncias aditivas?
O risco aumentado de suicídio, a solidão e o consumo grave e preocupante de substâncias são reconhecidamente graves nas duas regiões. Creio que desde os finais dos anos 70, com a televisão e a Universidade dos Açores, houve uma maior abertura ao exterior, que, com o turismo, se tem vindo a desenvolver.
A impressão que tenho, pelo menos no que diz respeito a São Miguel, nos Açores, é que as pessoas tornaram-se extraordinariamente simpáticas e acolhedoras.
E o orgulho em sermos ilhéus é qualquer coisa que contribui para melhorar a nossa autoestima.Na sua intervenção no TEDxLisboa 2023, abordou a ideia de ‘cura pelo amor’. Qual considera ser a importância do amor, em suas múltiplas manifestações, no contexto do tratamento e da prevenção das perturbações mentais?
A empatia e a compaixão pelo sofrimento humano são instrumentos terapêuticos de enorme valor. Das várias formas que o amor pode tomar, o amor terapêutico, chamemos-lhe assim, pode ser transformador e salvar a vida das pessoas.
Quais os últimos livros de ficção que leu?
Costumo ler vários ao mesmo tempo. Agora estou a ler A nuvem no olhar, de João de Melo e Biografia não escrita de Martha Freud, de Teolinda Gersão.
Que escritores admira particularmente?
Saliento Carl Sagan, Kafka, Irving Yalom e Bill Bryson, para falar apenas dos primeiros nomes que me ocorreram (e misturando ficção com não ficção).
E há outros que, embora não os conheça bem, admiro muito, como escritores talentosos, mas sobretudo pelas pessoas que intuo que são: João de Melo e Teolinda Gersão.
Nos seus livros, a linguagem é sempre acessível e próxima do leitor. Quando nasceu a sua paixão pela escrita?
Não foi desde pequenino, e até acho que não tinha jeito para escrever. Apesar disso, lembro-me que, na Escola Primária, ganhei um prémio literário. Infelizmente, não me recordo de nenhum pormenor relacionado com essa situação.
Só em 2005, aos 44 anos, escrevi o meu primeiro livro, As faces do Inconsciente. Depois estive 12 anos sem publicar. Pensei que aquele primeiro seria o único livro que iria publicar. Mas depois, inspirado por alguma ficção que recomecei a ler, tentei escrever um romance. Fiz duas tentativas, mas rapidamente percebi o quão difícil é essa tarefa. Mas creio que, apesar disso, surgiu o entusiasmo. E a partir daí voltei a publicar, desta vez O Inconsciente está no cérebro. E, depois, nunca mais parei. O “bichinho” já está entranhado.
Como concilia a carreira de psiquiatra com a de escritor?
O grande desafio, e a maior dificuldade que sinto, é na gestão do tempo. Por vezes penso que, caso tivesse tempo, poderia escrever bastante mais. Seja como for, os conhecimentos e a experiência que tenho adquirido como psiquiatra e psicoterapeuta, bem como tudo o que tenho aprendido com os meus pacientes, têm contribuído muito para desenvolver a minha tarefa como autor.
Tendo já publicado sete obras, possui atualmente algum projeto ou ideia para o desenvolvimento de um novo livro?
Tenho ideias. Há temas sobre os quais tenho estado a pesquisar e a tomar notas e que poderão dar origem a novos livros: os medos e os sonhos. Vamos ver.
«Húmus», de Raul Brandão
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Editora: Imprensa Nacional
Data de publicação: Dezembro de 2021N.º de páginas: 256 |
Húmus é um dos títulos pertencentes à coleção Biblioteca Fundamental da Literatura Portuguesa, da editora Imprensa Nacional.
Publicado em 1917, esta é uma obra central do modernismo português, embora com fortes traços simbolistas e expressionistas. O livro não segue uma narrativa linear tradicional — é antes uma sequência de fragmentos, reflexões e descrições que exploram a condição humana.
«Raul Brandão rompeu com as conceções literárias vigentes no seu tempo, em nome da liberdade reclamada pela vocação indagadora de uma arte singularmente atenta à crise de valores que então se vive e à injustiça social», afirma a especialista Maria João Reynaud, doutorada em Literatura Portuguesa com uma uma tese sobre as três versões de Húmus.
Ao longo de 20 capítulos, Raul Brandão mistura prosa poética, imagens intensas e um tom melancólico para falar da vida, da certeza da morte, do sentido (ou falta dele) da existência e do inevitável destino de todos os seres: a decomposição, o “húmus”, metáfora para a decomposição e a renovação, que dá título à obra.
Há personagens recorrentes — padres, camponeses, velhos, pobres, soldados — mas eles funcionam mais como símbolos do sofrimento, da miséria e da efemeridade do ser humano do que como protagonistas de uma história. O espaço é frequentemente a aldeia ou o campo português, envolto em neblina e decadência.
Um dos grandes temas deste romance é a oposição entre a aparência e a essência, mas também, tem como sub-temas, a efemeridade da vida, a condição humana, a injustiça social e a Natureza como espelho existencial.
Em essência, é um livro sobre a fragilidade da vida, a presença constante da morte e a tentativa de compreender, ou ao menos sentir, o mistério do mundo. A escrita é densa, poética e carregada de imagens de natureza e decomposição, tornando-se quase um diário existencial.
Com Húmus, Brandão constrói um belíssimo retrato lírico-existencial da condição humana, onde a morte, longe de ser fim, se torna princípio de reflexão e criação.
O seguinte parágrafo, que transcrevo da página 67 do livro, capta perfeitamente o sentimento de claustrofobia, repetição e a urgência existencial que marcam a escrita do autor de As ilhas desconhecidas (1926) – a angústia diante da vida padronizada e a necessidade de libertar algo profundo que está contido:
«Chove. Cada vez vejo mais turvo, cada vez tenho mais medo. Estamos enterrados em convenções até ao pescoço: usamos as mesmas palavras, fazemos os mesmos gestos. A poeira entranhada sufoca‑nos. Pega‑se. Adere. Há dias em que não distingo estes seres da minha própria alma; há dias em que através das máscaras vejo outras fisionomias, e, sob a impassibilidade, dor; há dias em que o céu e o inferno esperam e desesperam. Pressinto uma vida oculta, a questão é fazê‑la vir à supuração.»
Novo livro de Charlie Donlea entre as novidades de supense de Agosto
Do mesmo autor de A Rapariga do Lago, A Rapariga Que Ficou para trás e A Rapariga do Olhar Vazio, a Presença acaba de publicar o tríler A Rapariga Sem Passado. Segundo o seguinte elogio do The New York Times, «não se pode culpar Charlie Donlea se o final do livro apanhar o leitor completamente de surpresa.»
Sinopse
A verdade quando revelada, pode ser mais mortal do que qualquer outra mentira.
Sloan Hastings, uma jovem patologista forense, submete o seu ADN num site de genealogia para um trabalho de investigação, com o objetivo de compreender melhor a riqueza da informação genética existente. Na verdade, Sloan tem algumas reservas quanto à experiência: é adotada e nunca pensou em procurar os pais biológicos.
Os testes de ADN revelam que Sloan é Charlotte Margolis, conhecida como «bebé Charlotte», desaparecida misteriosamente com os pais em 1995. Em busca de respostas, Sloan viaja até Cedar Creek, no Nevada, onde conhece a família biológica. Embora inicialmente acolhedores, os Margolis escondem segredos sombrios e nem todos parecem satisfeitos com aquele regresso. À medida que Sloan investiga o passado, percebe que há quem prefira que certas verdades permaneçam enterradas - mesmo que isso signifique matar.De Kelsey Cox, a Singular apresenta a 21 deste mês o tríler Fim de Festa. Podemos encontrar no Goodreads a seguinte opinião de um leitor, que sobre o livro escreveu: «As personagens são fantásticas, a história é arrebatadora e o final deu-me arrepios! É, sem dúvida, um dos melhores thrillers que já li.»Sinopse
Duvide de tudo e de todos. Nesta festa perfeita, ninguém é inocente.
Na glamorosa festa de 16 anos de Sophie Matthews, o cenário é de sonho: uma mansão luxuosa, uma pista de dança sob as estrelas, um bolo de aniversário digno do Instagram.
O evento é organizado pelo pai de Sophie, Ethan. Dani, a sua jovem esposa, sofre de depressão pós-parto. Kim, a ex-mulher de Ethan e mãe da aniversariante, debate-se com ciúmes e um problema de alcoolismo. Mikayla, a melhor amiga de Sophie, esconde segredos que vão além da sua aparente docilidade. Órlaith, a ama irlandesa contratada para ajudar Dani, parece ser a única a perceber o perigo latente na casa.
A tensão aumenta a cada brinde. Numa festa onde as aparências enganam, um corpo cai da varanda logo após o soprar das velas. Quem é a vítima e quem é o culpado
quarta-feira, 13 de agosto de 2025
Clássico russo «O Mestre e Margarita», de Mikhaíl Bulgákov, ganha nova edição
Romancista e dramaturgo, Mikhaíl Bulgákov nasceu em Kiev, em 1891, e morreu em Moscovo em 1940. Estudou Medicina e durante a Primeira Guerra Mundial trabalhou em vários hospitais. Das suas obras destacam-se A Guarda Branca, Coração de Cão e O Mestre e Margarita, publicado postumamente em 1966. Esta última obra, veio a ser reeditada 15 vezes na Rússia e traduzida para cerca de 180 línguas. Foi adatpada para televisão, cinema, teatro, etc.
Escrito em segredo e publicado vinte e seis anos após a sua conclusão, O Mestre e Margarita sobreviveu à censura e ao silêncio para se tornar uma obra universal - um triunfo póstumo da imaginação sobre a repressão. O romance, traduzido diretamente do russo por Nina Guerra e Filipe Guerra, ganha uma nova edição com o selo da Presença. Nas livrarias a 20 de Agosto.
Texto sinóptico
Um gato falante, um demónio que lança Moscovo no caos, um escritor perseguido pelo sistema e um romance proibido sobre a vida e a morte de Jesus. Tudo isto - e muito mais - se entrelaça em O Mestre e Margarita, obra-prima alucinante de Mikhaíl Bulgákov, escrita à sombra da censura e apenas revelada ao mundo décadas após a morte do autor.
Numa Moscovo mergulhada em paranóia e mediocridade, o Diabo - disfarçado de professor estrangeiro - chega para expor o ridículo dos homens e reescrever a ordem do mundo. Paralelamente, o Mestre - um escritor destruído pela repressão - luta pela sobrevivência do seu romance proibido.
Outra novidade de Agosto da editora: A Rapariga Sem Passado.
terça-feira, 12 de agosto de 2025
O belíssimo livro de viagem que Raul Brandão escreveu sobre os Açores e a Madeira
Raul Brandão (1867-1930) fez carreira militar, foi jornalista e escritor de uma extensa obra literária. Reformado do posto de capitão, em 1912, Brandão inicia a fase mais fecunda da sua produção literária, escrevendo livros, como Húmus, a sua obra-prima.
Em 1924, Raul Brandão visitou os arquipélagos dos Açores e da Madeira, no âmbito das visitas dos intelectuais então organizadas sob a égide dos Autonomistas. Dessa viagem resultou a publicação (em 1926) de As ilhas desconhecidas, considerado um dos melhores livros de viagens de todos os tempos na literatura portuguesa.
Este livro, que contém também várias fotografias das nove ilhas açorianas, captadas nessa expedição, está inserido no Plano Nacional e Regional de Leitura. Uma publicação da Letras Lavadas, que também editou-o em inglês (tradução de David Brookshaw): The Unknown Islands.Excertos do livro
«As Flores e o Corvo erguem-se uma defronte da outra, separadas por um canal de quinze milhas, o Corvo espesso e nu, as Flores violeta e verde com rochas violetas e os cimos dum pasto delicado.» — Raul Brandão, 30 de junho de 1924
«Nunca me esqueceu a manhã virginal da Madeira, e as cores que iam do cinzento ao doirado, do doirado ao azul-índigo - nem a montanha entreaberta saindo do mar diante de mim, a encerrar azul e verde...» — Raul Brandão, 14 de agosto de 1924
Excerto do prefácio
«As Ilhas Desconhecidas – Notas e Paisagens, [são] sem sombra de dúvida uma das obras-primas da literatura de viagens em língua portuguesa, facilmente ombreando com os melhores clássicos. Com efeito, ainda hoje, é impossível compreender os Açores moderno, sem trilhar os passos e entender as apreciações do escritor nessa viagem realizada de junho a agosto de 1924, ao encontro de um mundo de magia e mistério. Ligam-se a natureza, as pessoas, as tradições e a história, e o que resulta é um panorama que naturalmente nos atrai, numa identificação em que nos tornamos participantes num extraordinário laboratório onde o povo açoriano se singulariza nas suas qualidades, através de um melting pot baseado numa rica simbiose entre natureza e sociedade. Pode dizer-se que a obra de Raul Brandão constitui uma peça crucial para a compreensão da especificidade açoriana e para a construção da autonomia constitucional hoje consagrada. E a grande qualidade cultural e literária contribuiu decisivamente para a afirmação da moderna identidade açoriana ». Guilherme d’Oliveira MartinsElogios
"A sua visão da luz e da cor dos Açores é uma coisa inexcedível." — Vitorino Nemésio
"A alternância entre o esplendor da luz e o abismo negro da dor faz de Raul Brandão um escritor de hoje e de sempre." — Maria João Reynaud
"É um magnífico livro de viagens, mas é muito mais que isso: faz da geografia das ilhas portuguesas uma geografia metafísica, tremenda e maravilhosa. Um reino deste mundo e de outros mundos." — Pedro Mexia
Outro livro que pode interessar: Lady Bobs, o seu Irmão e Eu, de Jean Chamblin
segunda-feira, 11 de agosto de 2025
Levoir publica novela gráfica que homenageia Fernando Pessoa
A novela gráfica O Desassossegado Senhor Pessoa foi uma das grandes sensações no mundo da Banda Desenhada em França em 2024 e candidato aos prémios do festival de banda desenhada de Angoulême 2025. A obra, em capa dura, editada pela Levoir, é "um retrato comovente de Fernando Pessoa, um dos maiores escritores do século XX".
O Desassossegado Senhor Pessoa, do francês Nicolas Barral, foi traduzido para o nosso idioma, a partir de L'Intranquille Monsieur Pessoa (Dargaud, Set. 2024), por Ricardo Belo de Morais, escritor, investigador e especialista em Fernando Pessoa (autor de livros como O Quarto Alugado e Transição), que também assina o posfácio.
Texto sinóptico
Simão Cerdeira, um jovem jornalista do Diário de Lisboa é indicado para escrever o obituário de Fernando Pessoa, porque corre o rumor, em Novembro de 1935, de que o poeta está doente e morrerá em breve. Mas Cerdeira nada sabe sobre o poeta lançando-se numa investigação, percorrendo o seu rasto, entrevistando as principais testemunhas da vida desta enigmática figura.
Ao mesmo tempo, Pessoa prepara a sua morte. Na altura Fernando Pessoa trabalhava nos textos do Livro do Desassossego, do heterónimo Bernardo Soares.
«Dizem que Pessoa tinha um baú cheio de milhares de textos, uma espécie de caixa de correio onde todos esses escritores vinham regularmente deixar os seus manuscritos. Um baú cheio de pessoas que talvez só existam na imaginação do seu dono.»Críticas
«O Desassossegado Senhor Pessoa é mais do que uma simples biografia ilustrada. É uma meditação que respeita a memória de Pessoa sem a enclausurar. Nicolas Barral, com sensibilidade e mestria, oferece-nos uma história que não pretende decifrar o poeta, mas acompanhá-lo nos seus últimos passos, através de uma carta de amor à Lisboa dos anos 30, ao mistério da criação artística, e ao homem que, do seu baú, deu voz a muitos outros homens e que continua, desassossegadamente, a falar connosco. Saibamos nós ouvi-lo.» Hugo Pinto, Blogue Vinhetas 2020
«(...) um belo tributo ao autor de Mensagem, que tem edição recente da Levoir e autoria do francês Nicolas Barral que, como já tinha feito em Ao som do fado, ambientado no estertor da ditadura, volta a usar Lisboa como palco de um romance gráfico, aqui com uma belíssima reconstrução da capital nos anos 1930, perfeitamente reconhecível como lugar real e não um artifício vazio para tornar mais cativante a obra.» Pedro Cleto, Jornal de Notícias
«Do ponto de vista técnico, esta obra está muito bem conseguida. Já tinha lido Ao Som do Fado, do mesmo autor, e também me agradou imenso. (...) Uma leitura imprescindível para todos os admiradores do poeta e para quem quiser aproximar-se da sua complexa e fascinante figura.» Urbon Adamsson, GoodreadsO autor
Nicolas Barral, nasceu em Paris, é argumentista e desenhador, tendo vários álbuns publicados em Portugal, nomeadamente Ao Som do Fado (2020) e três volumes da série As aventuras de Philip & Francis, co-assinado com Pierre Veys.Outras novelas gráficas recentes
Rumo ao Sul; O Caderno Azul-Depois da Chuva.
domingo, 10 de agosto de 2025
«Lady Bobs, o seu Irmão e Eu», uma narrativa de viagem aos Açores do início do século XX
Lady Bobs, o seu Irmão e Eu, traduzido para o nosso idioma por Manuel Menezes de Sequeira, é uma uma narrativa de viagem romanceada, epistolar e quase autobiográfica, da autoria de Jean Chamblin, que dedicou a vida ao teatro, à escrita e ao activismo. Esta obra editada pela Letras Lavadas, contém quinze fotografias que ilustram o texto. Este romance que tem os Açores como pano de fundo, foi publicado em 1905, quando a autora tinha 29 anos.Em 1902, Jean Chamblin (1876 – 1950) visitou os Açores, tal como a sua personagem Kate. Partiu de Nova Iorque no vapor Dona Maria, passou pelo Faial, por São Jorge e por Angra do Heroísmo, e chegou a Ponta Delgada por volta de 8 de Maio de 1902. Aí permaneceu até final de Julho. Fez excursões às Sete Cidades e às Furnas, embrenhou-se na vida da Rua do Beco, participou nas Festas do Espírito Santo, que fotografou.
Excertos
«Minha querida, encontrei-as! Estão aqui todas, as nove ilhas dos Açores. Pequenas ilhas cheias de orações e santuários e sinos vespertinos, enfiadas num fio de água, como as dezenas nas voltas de um Rosário do Mar.»«Na terceira fomos levados - o padre católico, um tal Diogo e eu -, por cortesia do seu proprietário, à mais encantadora casa de campo que alguma vez vi. E com que jardim! Flores, fetos e árvores suficientes para encher um herbário, pequenas grutas e passeios subterrâneos e namoradeiras por todo o lado.»
Elogios
«Lady Bobs equilibra-se com leveza feminina, muito humor e virtuosa elegância no cruzamento entre a literatura de viagem e o romance epistolar. Escrito após uma digressão de Jean Chamblin pelo arquipélago açoriano, o livro oferece um interessante retrato da sociedade micaelense em inícios do século XX. Por entre descrições de paisagens rurais que se iluminam ou fantasmagorizam consoante os caprichos do clima, o olhar sensível da viajante americana capta as pessoas, lugares e costumes ilhéus, tecendo uma narrativa ancorada no casamento fértil entre a estranheza, o equívoco, a ironia e o fascínio. Um livro imprescindível, finalmente publicado nos Açores.» Paulo Ramalho
«Romance epistolar publicado em 1905, agora traduzido para português, Lady Bobs, o seu irmão e eu vem juntar-se à literatura dos Açores ou que tem o arquipélago como tema, e muito deve ao zelo do tradutor e editor Manuel Menezes de Sequeira, que o apresenta e a par e passo anota com máxima atenção aos contextos biográfico, literário e açórico, em favor de uma melhor compreensão e deleite dos leitores contemporâneos. Uma edição verdadeiramente exemplar, portanto, que cumpre saudar entusiasticamente.» Vasco Rosa
Críticas de imprensa internacionais
O livro recebeu críticas positivas, em 1905 do The New York Times e no ano seguinte dos seguintes meios de comunicação: Boston Evening Transcript, The Bookman, The Independent e Appleton's Booklovers Magazine.
Edição em inglês
Lady Bobs, Her Brother And I: A Romance of the Azores
Outro livro que pode interessar: As Ilhas Desconhecidas, de Raul Brandão.