«A Casa do Outro Lado do Lago», de Riley Sager

Editora: Guerra & Paz

Data de publicação: 24/01/2023
N.º de páginas: 304

Originalmente publicado em Junho do ano passado pela editora americana E. P. Dutton, com tradução portuguesa assinada por Ana Pinto Mendes, A Casa do Outro Lado do Lago é um tríler psicológico com um enredo povoado por poucas personagens e com um pano de fundo composto por um extenso lago permeado por imponentes moradias, no Estado mais rural da América.
Uma protagonista emocionalmente instável, que se deixa levar pelo entorpecimento que o álcool provoca no seu corpo e mente. E começa a ficar obsessiva com a vida amorosa dos vizinhos, espiando-lhes. Este não é propriamente um plot original no que se refere a tríleres psicológicos. Este novo livro de Riley Sager tem alguns dos mesmos ingredientes de muitos outros tríleres domésticos de sucesso como A Rapariga no Comboio e A Mulher à Janela: a narração não confiável e o voyeurismo. Só o final é que não é comparável.
Com a frase «O lago é mais escuro do que um caixão com tampa» é iniciada esta história narrada por Casey Fletcher, uma actriz famosa, na casa dos trinta anos, que após a morte do marido, se deixa levar pela dependência do álcool e, que por causa deste, vê o seu papel de protagonista numa peça da Broadway ser-lhe retirado. Para escapar dos flashes dos paparazzi e recompor a sua estabilidade emocional, ela se exile na casa de férias da família, no Vermont.
É na casa do lago que conhece os seus novos vizinhos, Katherine e Tom Royce, uma ex-supermodelo e um magnata das tecnologias, um casal que aparenta felicidade. Doptada de um par de binóculos e fazendo-lhe sempre companhia, uma ou duas garrafas de uísque, Casey começa a espionar – “observar”, como lhe chama – os vizinhos, na casa com fachada de vidro onde habitam. E logo conclui que nem tudo está bem no casamento deles. Então Katherine desaparece… E assim começa o início de uma obsessão: «(…) o que eu vi não foi malícia nem vingança. Foi medo. Um medo evidente e que lhe consumia todas as forças.»
Com passagens plenas de tensão e ritmo, com nuances de humor sarcástico (o que torna a leitura altamente divertida), A Casa do Outro Lado do Lago revela-se um tríler intrincado e de feitura inteligente, com um enredo e uma narrativa envolventes. O facto de o autor oferecer ao leitor constantes voltas e reviravoltas na trama, ao longo de muitas dezenas de páginas – que antecedem o epílogo –, faz com que a nossa adrenalina se mantenha sempre em alto.
No fim, o leitor é capaz de ficar em loop, a deambular na seguinte afirmação (da narradora): «Por mais que se olhe, existe sempre algo para lá da superfície que permanece escondido.»
Riley Sager é um dos pseudónimos do norte-americano Todd Ritter (autor de dez livros), sendo este A Casa do Outro Lado do Lago o sexto romance de suspense que escreve sob este pseudónimo e o terceiro traduzido para português.

Excertos
«Fecho os olhos, ergo a cara contra o vento e deixo a chuva salpicar-me a pele (…). Mas a chuva é suficientemente fria para eu recuperar a sobriedade e dolorosa o bastante para me obrigar a concentrar-me no que tenho de fazer em seguida.»

«Nenhum casamento é completamente honesto. Todos assentam em algum tipo de engano, mesmo que seja pequeno e inofensivo.»

«A felicidade só existe durante um breve período até que tudo colapsa.»